29 de junho de 2009

Um sinal dos tempos: rock, eletrônica, sertaneja... tudo, pra gurizada, vai bem no São João.


Os portugueses da época da colonização do Brasil, que trouxeram pra cá as tradições religiosas das festas aos santos, devem ter se contorcido em suas tumbas. O reduto do quentão, paçoca, milho e que tais foi “maculado” pela presença ostensiva do rock n’ roll. Rock brasileiro, cantado em português. Idéia desenvolvida por cinco professores de um colégio em Aparecida de Goiânia, o Expressão Vestibulares. Com Robert na guitarra, Anderson Chicão e Luís Eduardo Bacural nos vocais, Luís Guga Valente na bateria e o dono deste blog no baixo, os alunos que estavam no “Arraiá do Expressão”, realizado neste sábado 27, puderam ouvir os sons que “bombavam” nas rádios dos anos 80. Época em que a enorme maioria ali nem sequer havia nascido, com exceções de poucos alunos do curso noturno.
Há de se comentar que os “arraiais” de hoje já não são como na minha tenra infância - forró tradicional, tipo Gonzagão, vestimentas parodiando o roceiro e cardápio típico do campo brasileiro, à base de milho. O que se vê por toda a parte são “releituras”: a quadrilha mudou – em alguns lugares virou show de dança contemporânea – o cardápio oferece mais opções, como espetinhos e caldos, nem todo mundo se veste a caráter (eu mesmo não sou adepto), e o DJ contratado toca de tudo um pouco, MENOS forró. As duplas sertanejas “universitárias” ressuscitam clássicos oitentistas do gênero, e uma ou outra moda de viola. Enfim, a geração mudou da minha infância até hoje, e com ela mudou-se a festa junina.
Excelente espaço, muita gente prestigiando (meu falho senso de quantidade me diz que ali havia umas 700, 800 pessoas), e uma diversidade de ambientes fantástica. Alunos esperando ansiosos pela apresentação da Palmatória, nome dado ao projeto dos professores. Era a chance de ver aqueles caras do cotidiano da sala de aula, do dia-a-dia chato das quatro paredes, bancando roqueiros, tardios e fora de forma. O poder de aproximação, de humanização da relação professor-aluno que isso trás, dá um tema de dissertação. Assunto para outros blogues.
Aparelhagem bem precária, que impossibilitou algo mais elaborado. Se bem que não era essa a intenção. A apresentação começou com RPM, “Rádio Pirata”. Clássicos são inesquecíveis, por isso a molecada cantou a música toda, num mix de euforia desorganizada e saudosismo de uma época que eles não viram. “Maior abandonado”, do Barão nos tempos de Cazuza, foi fodástica. “Carta aos missionários”, do Nenhum de Nós, não foi tão celebrada, penso eu por ser menos conhecida pelo público leigo de rock. Um dos pontos altos do show, “Até quando esperar?”, da Plebe Rude, foi gritada pelos presentes de um jeito comovente. Depois, “Vital e sua moto”, do Paralamas, “Ciúme”, do Ultraje, “Meu erro”, Paralamas de novo, “Polícia”, dos Titãs e “Fábrica”, do Legião, compuseram o meio do show. Era moleque pulando, gritando e cantando numa alegria de dar dó. Quem pensa que o rock morreu na boca da criançada, reveja urgentemente seus conceitos. Menininhos e menininhas de 14, 15 aninhos, cantando a plenos pulmões músicas de 25 anos atrás. Foi lindo que só vendo.
Pra fechar a apresentação, a Palmatória escolheu outra do Barão, “Por que a gente é assim?”. Um repertório enxuto por dois motivos: era uma festa de colégio, não um show de rock. E a vida corrida de professor infelizmente não proporcionou mais ensaios (isso me soa muito familiar, he he he...). Mesmo assim, num balanço rápido, foi muito foda ver o poder do rock agindo na molecada. É uma geração menos preocupada com rótulos, mas aberta à diversidade. Os mesmos que pularam, agitaram e suaram no show da Palmatória, cantaram “xonados” os sucessos sertanejos do momento, no show posterior do palco principal da dupla Pedro e Roney, e “dançaram” (não sei se é o termo correto) trance, ou seja lá o que aquilo se chame.
Rock em festa junina, pra essa geração, tem tudo a ver. Eles querem provar de tudo, são mais inquietos, e estão subvertendo o que antes era tradição. Não que isso jamais tenha ocorrido. O que é diferente é a velocidade da mudança. Na festa de sábado, isso foi patente. O resultado que isso trará não há como prever. Não posso dizer que este é o fim das festas juninas, do “pula fogueira iá-iá”. Mas vejo este ciclo como inevitável e cada vez mais rápido.
Talvez este projeto vingue e se transforme em banda, especializada nessa temática oitentista do rock nacional. Me perguntaram na comunidade do orkut “Goiânia Rock City”, se o show seria com o lado “true” do rock brazuca. Não sei precisar, pois isso é muito variável. Eu detesto Legião Urbana com todas as minhas forças, e nem por isso deixo de considerar uma banda válida deste recorte de tempo. Por isso toquei uma música deles, sem problema. Faltaram outros nomes típicos do período. Como eu disse, não dava pra se estender no repertório. Agora, se fomos “truzão”, cada um julgue por si, até porque pra nós isso não fará a mínima diferença. Queríamos nos divertir, divertindo nossos alunos, e isso eu garanto que aconteceu de forma espetacular. Em tempo, eu estava numa puta ressaca e provei quase nada do cardápio. A Dri provou o espetinho, o caldo e o pé-de-moleque. Pelas suas reações, aprovadíssimos. Viva São João.

22 de junho de 2009

As férias do submundo

Celebrar a vida e a diversidade, sem nenhum motivo especial. Foi isso que fizemos aqui, no Rango Rock, neste sábado 20 de junho. Chikão e Roberta, Bacural e Lê, Guga Valente, minha esposa e eu – esse timaço formado de personalidades diversas – tomamos uns e umas, ouvimos muito rock, a contragosto de Adrielle e Lê, que não são adeptas das guitarras destorcidas, experimentamos queijos e comidinhas de boteco feitas pelos anfitriões, enfim, farreamos.
No meu toca CD rolou de tudo um pouco, dentro do mainstream. Isso mesmo, nada de bandas podronas da cena do old school east side true crew muthafuka da Islândia ou da Finlândia dos anos 80. Nenhuma sequer com tremas ou fontes de old english nos nomes. Nenhuma demo de edição limitada de 20 cópias da cena de Osasco de 82. Neste dia, a molecada do Ímpeto tirou férias do submundo. Ouvimos Nirvana, Ramones, Coldplay, Pearl Jam, Metallica, Iron Maiden, Bad Religion e outros tantos nomes que são manjados na MTV e no escambau. A gente também tem direito.
Houve uma única exceção. O último e nem tão novo CD do Motherfish. O papo sobre rock caiu na vertente depressiva. Não que o Motherfish o seja. Mas não há como não evocar a banda e sua melancolia bem trampada num papo assim. E ainda conta que o Bacural não conhecia o trabalho, então resolvi mostrar.
Tombamos 4 garrafas de vinho, todos cotidianos, nada de sofisticado. Um rótulo nacional branco chardonnay, um português estremadura do Dão Sul, filho da puta de encorpado, tanino. Além de um chileno cabernet sauvignon bem melhor do que qualquer outro que eu já tinha provado, nestes 2 anos de estudos, e um sul-africano pinotage comprado a módicos 20 mangos, eleita a melhor garrafa da noite. Em média 23 reais a garrafa, é o que diz a calculadora do meu celular.
Não cheguei a abrir a Sagatiba Velha que eu tenho aqui. Fiz o oferecimento, mas não houve macho que a encarasse.
Cerveja boa à revelia: Brahma Extra ($0,99 no Carrefour Sul, numa promoção relâmpago), Bohemia, Teresópolis e Devassa Loura, todas pilsen.
No cardápio ainda constaram 7 tipos de queijos, entre nacionais e importados. Porção de alcatra no pimentão amarelo e vermelho (apelidada por mim de espanhola), uns frios, amenidades, etc. Sim, foi uma esbórnia pantagruélica. De tamanha magnitude que despertou minha enxaqueca, adormecida há uns bons meses. Crise pós-cachaçada, que arrematou meu domingo.
A diversidade de sabores, perfumes, aparências e texturas do cardápio, é a cara do gosto coletivo que rolou no som dessa noite. Nada de extremismos, apenas sentindo que a “cultura rock” é tão abrangente que poderíamos ficar mais de um milhão de noites apenas pra sacar som. E que isso convive numa boa, no mesmo ambiente, se há um mínimo de tolerância. Estive num fantástico jantar na casa do Guga, onde saboreei uma fraldinha assada espetacular, copiada descaradamente em minha casa uma semana depois (e que não executei com a mesma perfeição, diga-se). Na ocasião, bebemos vinhos muito bons, cerveja boa, com excelente companhia. E ouvimos muito Jazz. Daquelas big bands, tipo deprê dos anos 30, e aqueles mais animadinhos já dos 50. A diversidade é uma virtude alcançável a qualquer mortal. Não precisamos viver o tempo todo pregando que o capitalismo é um mal ou que a fome que assola a África é fruto do imperialismo. Podemos aproveitar a diversidade e absorver aspectos culturais novos que estão diretamente lincados com o mundo do rock. Sem deixar de considerar a raiz hardcoreana.
Quem não conhece o Guga Valente, poderia imaginar que o guitarrista do Ímpeto, banda referência da tosquice anti-cena-profissional, gosta de Shakemakers? Ou que este que digita de cá tem tudo do Coldplay? Ou que o Bacuras, hardcore até o osso, é fã de Alanis Morissette?
Noite em que percorremos muitos lugares diferentes, dentro de uma sala de oito metros quadrados. Noite em que a síndrome dos 30 pegou a gente de jeito (aquela mania de pensar que já estamos velhos), trazendo saudosismo dos bons tempos, que o foram simplesmente porque NÓS estávamos lá. São 15 anos de cena, de minha parte, acho que uns 17 por parte do Guga e Bacural, que são mais velhos que eu (he, he, he...).
E disse o Rock n’ Roll:
“ – Bem aventurados os partidários da diversidade, porque eles são os fodões”.

15 de junho de 2009

Retomando o projeto

Amigos, eventuais leitores e afins: reativaremos o blog e sua idéia central. Tudo resolvido com o provedor de internet, com a máquina e com a preguiça que tentou desmontar o projeto. Semana que vem, mais textos sobre rock e comida.
Uma prévia do que vem por aí: duas lendas da cena hardcore punk de Goiânia vem ao QG do Rango Rock. E é claro que vamos arrancar deles informações e opiniões que paguem a estadia deles por aqui. Estamos falando de Guga Valente, o multibandas, e Luís Eduardo Bacural, o eterno moleque hardcore. Em pauta, a própria cena, vinhos, queijos (sim, somos frescos), cervejas e rock. Vai ser massa.
Aguarde.