20 de julho de 2009

Rolê pelo melhor preço: de graça. Cocktail Molotov no DCE.

O rolê do Rango Rock desta segunda-feira trás uma novidade: um colaborador especial. Bacural, meu amigo de longa data, narrará o que foi, para ele, o Cocktail Molotov, gig que rolou no DCE na sexta 17. Eu estive na parada, mas não trabalhando. Só curti mesmo, he he he...
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Ademais, este é o último "número" antes de uma reformulação gráfica pela qual o blog irá passar. Teremos nova logo, nova apresentação, mas a proposta será mantida. Esse rolê também marca um "tempo" que iremos proporcionar à cena hardcore. Nos próximos, visitaremos outras paragens roqueiras por aí. Novo número só em agosto.
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Para despertar a ansiedade de alguns (poucos) leitores, no sábado deixei oito K-7's para serem digitalizadas. Nenhuma delas tem menos de oito anos. Você gosta de CFC? Rat Salad? Desordem Progressiva? Choice? Psico&Ataq? Aguarde.
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Ah! ESTE BLOG ENTROU DE FÉRIAS. Escrevo tudo isso numa parada estratégica aqui em Anápolis. Seguiremos viagem amanhã, para o Tocantins. Há 50 caixas de cerveja na bagagem. Barata e boa, nossa amiga Brahminha.
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Chega de blá, blá, blá. Bacuras, companheiro de fé, dizaê como foi esse rolê:
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COCKTAIL MOLOTOV 17/07 COM MACACOS GORDOS, ANESTHESIA BRAIN, CORJA, NIEU DIEU NIEU MAITRE (CURITIBA), SEÑORES E SIEMPRE LOKO. DCE- UFG

Sexta feira 17 de julho, Goiânia, férias escolares. O que fazer nessa capital, se você não foi para o Araguaia? Ir para um show underground? Sim, isso mesmo, mas não seria um show qualquer. Esse seria um dos mais impressionantes shows que já vi nessa minha pobre vida de rockeiro trintão, começando pelo nome do evento: COCKTAIL MOLOTOV. Agressão iniciada pelo nome do evento.

O local: O DCE-UFG, ou melhor, um anexo do DCE-UFG (vou chamar o local de INFERNIN), um local que, mal cabiam 25/30 pessoas lá dentro! Aparelhagem? Três cubos, sendo um da marca Framm, uma bateria que tinha como suporte para não deixá-la movimentar um pneu de carro (você não está entendendo errado não!), um microfone, pedestal de microfone – uma vassoura – e a iluminação feita por um refletor que se apagava a todo o momento.

Você deve estar pensando: deve ter sido uma desgraça, ainda bem que eu não fui! Pois bem meu amigo, se você não foi você perdeu, sabe por quê? Vamos por partes...

Primeiramente a força de vontade do organizador, o Sr. Burns, que não é dos Simpsons e não tem nenhuma grana, sua força de vontade foi imensa ao fazer o evento totalmente DO IT YOURSELF ATÉ O OSSO! Foi de graça, sem nenhum flyer, sem nenhuma segurança, sem bar (quem queria bebidas, tinha que andar um pouco ate o bar mais próximo) e comida vegana, apenas com o espírito de fazer algo acontecer. Parabéns!

Por isso notou-se que no público – acredito que somando todos que estavam no evento deu mais de 150 pessoas no local – havia a moçada do hardcore, crust, punks, metaleiros, skaters uma miscelânea cultural, ou seria contra cultural? Não interessa, até agora tudo transcorria bem...

A primeira banda a tocar foi o MACACOS GORDOS de Inhumas, banda que entrou na programação por iniciativa do publico que pediu o show deles pela internet. Os caras tocaram um set de mais ou menos uns 30 minutos. Apesar do público esta frio ainda, agitaram bastante com seu som meio HC/punk com umas pitadas de rock nervoso.

A segunda banda a tocar foi o ANESTHESIA BRAIN, na qual essa pessoa que escreve é o “cantor”. Pense você uma banda com mais de 14 anos de existência, quase todos já tem mais de 30 anos e querer tocar musica rápida, o que pode sair? Pois bem, me surpreendeu, a aparelhagem apesar de precária segurou todo o som – o vocal que tava sumido, mas tudo bem – e o publico agitou de forma insana, louca, animal!!! Lindo. Fazia tempo que não via um show tão insano na vida.

Logo depois veio o CORJA, ou seria a CORJA? Segundo, Camboja e Daniel, o Power Trio. Fizeram um set com musicas bem variáveis, com um suporte de microfone que inicialmente tinha um cara que segurava para o Segundo cantar e depois fizeram uma “gambiarra” com uma vassoura... uma vassoura!!! Tem que comentar mais alguma coisa depois disso?

Logo após veio a atração da noite. Com dois membros de SP e os outros dois de Curitiba, sobe ao palco o NIEU DIEU NIEU MAITRE. Nem sei como definir o som dos caras, seria algo como Finlândia anos 80, com atitude Black Flag e o anarquismo do Los Crudos – não entendeu? Que pena, então perdeu o melhor show que Goiânia viu até agora em 2009 – com discursos anarquistas, antisexismo (com destaque para o vocal que ficou totalmente pelado e ainda enfiou uma baqueta no ânus, e a garota da guitarra com os seios de fora, como forma de protesto) e o público que estava possuído pelo cão. Foi um tapa na cara da sociedade conformista, conservadora, judaico-cristã. Um show que fez muita gente ter que usar a massa encefálica, ou simplesmente cérebro.

Mas foi tudo alegria? Infelizmente não...

A desgraça faz parte das ações humanas, então vou pontuar o que houve de ruim no evento...

Primeiro, um dos caras que mais faz pela cena independente de Goiânia, na semana do seu aniversário, o Segundo, teve sua banca com os CDs ROUBADOS, isso mesmo, roubados!

Logo depois, inicio de confusão no show do N.D.N.M. Não pude ver o que realmente tava acontecendo porque tava de roadie dos caras da banda.

Para piorar a situação as bandas SEÑORES e SIEMPRE LOKO não tocaram, sabe por quê? Ameaçaram o organizador, o Sr. Burns, dizendo a ele que iriam quebrar os cubos de som da aparelhagem. Eu gostaria de saber quem foi que o ameaçou dizendo isso a ele. Mas imagino quem deve ter sido...

Será que os responsáveis (ou melhor, irresponsáveis) por esses fatos estão felizes agora? Será que teremos novas iniciativas por parte do Sr. Burns? Qual será a impressão que os caras que rodaram milhares de kilômetros para tocar aqui vão ter da nossa “Goiânia Rock City”? Sinto-me envergonhado depois do fato ocorrido...

Mas não desisto jamais.

Termino ao som de Dead Kennedys : Nazi punks, fuck off.

10 de julho de 2009

One, two, three, four! CJ Ramone no Bolshoi Pub




Feliz é a palavra.
É assim que eu fico quando o rock me presenteia como ontem. Sensação de alegria, vontade de confraternizar, de pular num pé só, vontade de beber muita cerveja, de conversar até amanhecer com os amigos. Sobre os Ramones, é claro. Vontade de acordar a esposa às 3 da manhã e contar em detalhes como foi (e isso eu não fiquei só na vontade não, coitada). Feliz igual moleque em dia de festinha de aniversário. Igual quando o Atlético Goianiense foi campeão.
Arrombei meu orçamento. Fodi minha viagem de julho. E daí? Matei parte da minha frustração de não ter visto os Ramones ao vivo. Eu só tinha 16 anos e nenhuma possibilidade de ir pra Sampa em 1996, quando os novaiorquinos estiveram aqui pela última vez. Não por coincidência, ninguém da BCL representou os roqueiros da quebrada por lá, he he he! Éramos uma “crew” que não viajava muito, e você deve imaginar porquê. Acompanhamos tudo, pelos jornais e pela Rock Brigade.
Aviso a você que heroicamente chegou até essa linha do texto: isso não pretende ser uma resenha. Eu não sou um profissional do assunto, não estudei nada para isso. O que daqui para frente você lerá, se tiver paciência, é um relato pessoal de como o rock deixa um trintão feliz da vida.
Decidi ir à apresentação de CJ Ramone no Bolshoi em cima da hora, e por esse erro paguei $10 pratas a mais que muita gente. A dupla que compõe a equipe deste blog estava desfalcada de seu elemento feminino, então o rombo pelas entradas foi menor que o esperado. Eu comentarei sobre o óbvio: o Bolshoi é de longe a melhor casa que abre espaço para o rock em Goiânia, em diversos aspectos. O serviço pecou um pouco na agilidade, mas não bebi cerveja quente. O banheiro é um pouco diminuto, mas segurou a onda dentro do padrão da dignidade. Os preços da casa, velhos conhecidos de reclamões inveterados, como esse que digita aqui, são exorbitantes. Sabemos o motivo técnico para o negócio: selecionar público. E conseguem. Há pessoas em Goiânia que não se importam em pagar R$4,80 em uma cerveja long neck que custa R$2,00 no mundo real. Ou R$160 em uma garrafa de uísque nacional mediano, que em outras paragens não passa de 60 mangos. Mas se a intenção é reservar o espaço a uma parcela dos rockers pequizeiros, então eles pagam sorrindo. Não contavam com a audácia do populacho, que ontem compareceu em bom número. A ocasião pedia.
Um cardápio variado, de pratos quentes, saladas, comidinhas de boteco e amenidades. Ampla variedade de marcas das melhores cervejas européias e estadunidenses. Se você pertencer àqueles 10% situados entre a letra A e B do IBGE, é prato cheio pra entrar com a cara, ops!, rosto virado pra trás.
Uma falta que percebemos foi o reduzido estoque de Heineken 600ml. Pedimos 4, gostaríamos de ter pedido mais. Essa, oferecida a R$ 7, é a grande sacada para você, companheiro de choradeira classista, ilustre figurante no bolão C do IBGE. Após o garçom informar-nos que a garrafa de 600ml não estava mais disponível, apelamos para as long necks.
MAS E O SHOW? Ah, foi uma aula, não um show! Vamos deixar os lugares comuns pra outra hora, por favor. Vamos falar que os caras começaram com Blitzkrieg Bop! Puta que pariu... olha, eu não contei músicas, eu não anotei set list e caralho a quatro. Estava lá me divertindo, não trabalhando. Não sou jornalista. Minhas fotos ficaram uma bosta, porque não ajustei direito zoom, luz e emissão de flash. E eu te pergunto: e daí? Os caras tocaram I wanna be your boyfriend! VTNC! Judy is punk, I wanna be sedated, Beat on the brat, meu filho!!! Pouca coisa do Bad Chopper, se não me engano só dois sons. It’s a long way back to Germany, Strength to endure, Sheena is a punk rocker. Será que foi bom? Olha, lanço um desafio aos produtores de rock desta cidade: tentem fazer um show melhor que este, em 2009!
“Ah, mas o CJ nem foi tãããão Ramone assim”, ou “ele é o Ramone mais páia”, ou ainda variações destas frases perderam o sentido, se calaram, se renderam, na noite de ontem. Daniel Rey e Brant Bjork deram o suporte para que parte do sonho de muita gente se realizasse. Gabba, Gabba, Hey!
Simples e direto, mas com o amor ao ofício estampado na face quarentona e sorridente do ex-baixista dos Ramones. Carisma, simpatia, empolgação, gozo. Foi isso que vimos no palquinho do Bolshoi. Paciência com fãs mais abusados, que queriam colher autógrafos no meio do show. Experiência pra segurar a onda quando Daniel Rey atravessou um acorde num som: os músicos se entreolharam e riram do pequeno deslize. Técnica, garra, gosto, persistindo depois de tudo o que estes caras viveram. Eles estavam “lá”, minha gente! São personagens da história do rock! Sem nenhum tipo de estrelismo, o Bad Chopper endemonizou o pit.
Pequena pausa, de mais ou menos 3 minutos, e volta ao palco pra tocar mais uns 5 ou 6 sons. Saída rápida, sem frescuras nem terceira aparição no palco.
E eu lá, feliz. Sorrindo mesmo, igual bobo. Paguei a conta e mesmo depois, sorriso de orelha a orelha. Valeu a quebra do orçamento. Eu faria de novo, se pudesse.
Ninguém é de ferro. Depois disso tudo, podrão na 85 e Coca-Cola. E um relato extasiado à outra metade da equipe do blog, já em casa. Levemente embriagado e pensativo, imaginei: se fossem os Ramones, eu teria desencarnado.
CJ Ramone fez valer cada fração dos meus R$ 50. Daniel Rey e Brant Bjork idem. Quando voltarem (se voltarem) à Goiânia, farei de tudo para estar lá com o Bad Chopper. Quanto ao Bolshoi, voltarei quando a ocasião pedir. Há inúmeros lugares legais na cidade onde não preciso gastar tanto para me divertir. Sendo franco, não faz meu tipo lugar como aquele. Gosto muito de ser bem atendido, como fui ontem. Gosto mais ainda de sentar pra beber enquanto espero um show, como fiz por lá. A paisagem então, nem se fala: mulheres muito bonitas onde quer que se olhasse. Porém, sabemos onde tudo isso é ofertado a preços mais camaradas. E convenhamos, o populacho dá bandeira em pubs como o Bolshoi. Não gosto de ser detectado, sou discreto demais pra isso, nem gosto de ofender a retina régia pequizeira, com meu flagrante look “off”.
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Há poucas fotos no nosso flickr, por enquanto. Somente da câmera posicionada no mezanino. Havia uma câmera no pit a serviço do blog, de frente à banda: as fotos estão excelentes, mas ainda não chegaram às minhas mãos. Mate o gostinho com essas:
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8 de julho de 2009

Após vender a alma...

Não consigo conter a ansiedade. Resolvi agora (quarta-feira 8, 19:15h) que vou à apresentação de CJ Ramone no Bolshoi Pub, o reduto rock mais caro da cidade. E como não me preveni, pagarei $50 malandros nesse rolê, de entrada. Algo me diz que, mesmo assim, vai valer a pena.
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Extraordinariamente sexta-feira, 10 de julho, haverá por aqui algo sobre isso.
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One, two, three, four!

6 de julho de 2009

Chegou fim de semana, todos querem diversão...

...e havia inúmeras opções. O blog esteve em duas delas. O Férias Rock Festival e o Thelonious Monk. . Eu te conto:
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Uma galera muito louca aprontou mil e umas, numa tarde destas férias pra lá de animadas: FÉRIAS ROCK FESTIVAL !!!
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Meninas bonitas, meticulosamente recortadas dos clipes chorosos do Simple Plan e similares, molecada com cara de anime, rapaziada com penteados extravagantes, skatistas toscos, bikers sujismundos e muitos, muitos alargadores, tatoos, piercings e similares. Skate board, BMX, corrimão, parafina e saltos insanos. Iscas de sorvete gratuitas e sol escaldante da cidade que não tem inverno. Umidade relativa do ar baixa - o pequeno sangramento que tive no nariz acusou. Tudo isso no meio da rua, em pleno Jardim América – próximo ao PróBrazilian. É a gurizada off-circuit de Goiânia pondo pra foder, à seu modo. Também lembrou skate party que se vê em clipes gringos, como alguns do Pennywise - faça-se justiça. O Férias Rock Festival foi uma iniciativa de uma sorveteria e lan house situada na esquina da rua C-134 com a avenida C-104, a Fast Ship, e do Vitor Hugo, com seus acetonados cabelos amarelos. Um “evento pra quebrar a panela”, segundo comentários na comunidade orkuteira Goiânia Rock City, que infelizmente vem sendo o único ponto de informação sobre rock na cidade.
O lugar exalava cheiro de hormônio adolescente. Dentre as várias coisas que observei, sou obrigado a começar pela atitude da molecada. Dando banho de “faça-você-mesmo” em muito marmanjo chorão da cidade. Sem nenhum medalhão da “cena” por trás da organização, o público foi razoável. Eu esperava um pouco mais, pois não havia cobrança de ingresso. Nem mesmo pra andar na pista street improvisada do meio da rua. As bandas que vi tocando realmente não são rodadas nos palcos goianienses. E sobre os shows, não sei se a intenção era começar às 4 da tarde. Se era, foram pontuais. Se não, Goiânia que não cumpre a porra do horário Rock City. Será que sempre vai ser assim? Meus razoáveis anos nessa bagaça toda diz que posso me conformar. Mas reforço, não sei se o horário era mesmo às 16hs, para os shows.
Vi bandas que nunca tinha sacado antes. O-54 (“O” de Outono) iniciou as apresentações: rock básico, quadrado, sem firulas, bem ensaiado, alguns pequenos erros, com aquela timidez característica de moleques iniciantes. Numa aparelhagem legalzinha para o tipo do evento, o repertório curto incluiu Xuxa e Mamonas Assassinas. Panic Pronic veio em seguida, com um pouco mais de peso, numa linha mais metal (não me atrevo a arriscar rótulos nesse mundo de hoje...). A banda que teve maior apelo de público, pelo menos até onde estive presente, A+B, trouxe covers bem executados de Blink 182, a grande maioria, dessa última fase da banda americana – emo. E como boa parte da platéia presente se encaixava nessa onda já não tão nova, o sucesso foi patente. Depois, o Nova Conduta trouxe um som rápido, punk rock hardcore numa linha melódica, também bem ensaiado. No frigir dos ovos, boas bandas, considerando a pouca experiência, tecnicamente falando. Mas... (como eu adoraria escrever textos sem esse maldito “mas”), me digam pra quê aquela quantidade imensa, exagerada, pasteurizada, avassaladora, absurda, de covers? Por que meninos novos, talentosos, com um gás e uma atitude de fazer inveja, se rendem aos malditos covers? Por que seus amigos insistem em não valorizar o trabalho autoral? Como irrita ver esses amigos gritarem, após uma música autoral, a famosa frase: “- Toca isso! Toca aquilo!”. Vá para a puta que os pariu. Essa galera não vê que assim as boas músicas que eu ouvi, de autoria das boas bandas que estavam lá, nunca vão virar algo? Pois quem as compõe não se incentiva ao ver os seus amigos berrarem pra tocar sons de outras pessoas. Isso é simples e lógico. Tocar um ou outro cover é normal e até esperado. Meiar o show com músicas dos outros já é problema. Salvo o projeto que tocou que era sabidamente de covers. Pra estes, não há embuste. Saí de casa sabendo que eles só tocariam músicas do Blink 182. Esperei por sons do início da carreira da banda em vão. Desta fase nova, detesto tudo que eles fizeram. E não é por isso que eu não vou reconhecer a qualidade musical dos meninos do A+B. Aliás, de todas as bandas que eu vi.
Pelo atraso (?) inicial, não pude ficar pra ver as outras bandas. Uma pena, pois estava realmente curioso pra ouvir coisa nova. Saí às 6 e meia, quando a Aurora se preparava para tocar. Deixei de ver também a Reborni, que me foi bem recomendada.
De tudo o que pude perceber, os shows eram apenas UMA das atrações. Foi um evento que há tempos eu não presenciava. Uma sacada muito inteligente de quem organizou/ produziu. Teve a cara da molecada de hoje: intensa, que não espera que outros façam por eles, e ao mesmo tempo ingênua, com pose e circunstância que o mundo impõe à eles. Agressividade visual mesclada a uma postura quase infantil. Pouca gente bebendo, por exemplo. É bonito sentir essa energia deles, de verdade. Me dá uma saudade gostosa dos meus 18, 20 aninhos.
Não entendi o por quê de não haver um bar decente funcionando. Desculpe-me, Bibi. Não te chamei de indecente, he, he, he... mas bebericar Nova Schin, e só ela, mesmo num preço justo, é osso mermão. Investi no bar do outro lado do evento, onde achei Skol long neck por opressivos $2,50. Compare com eventos monstruosos, fosfóricos e afins e verás uma benção neste preço do boteco. Este pecado do evento, não pensar em estrutura de bar e banheiro (havia UM, unissex, para mais de 100 presentes) não chegou a comprometer o todo – não seria por isso que condenaria a gig.
Molecada, continuem. Não parem neste, façam mais festivais assim. Alimentem essa micro-cena rock da cidade. Isso é bom, agita, sacode, desembolora as coisas. Skate, BMX, sorvete e rock junto funcionou demais. Eu fiquei surpreendido. O saldo foi positivo, se é que eu realmente entendi direito o que se passou por lá: eu nunca me senti tão “fora d’água” num show de rock como neste sábado, he, he, he...

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veja algumas fotos aqui:
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Um fiel retrato da cena hardcore punk e metal de Goiânia. Thelonious Monk, Casa das Artes.

São 15:35h. Paro a moto em frente ao prédio da Casa das Artes. Absolutamente ninguém na porta. “- Ué, será que cancelaram? Fiz uma cera danada pra chegar um pouco mais tarde...”. Portas de aço baixadas, calçada vazia, angústia. Do outro lado da Anhanguera, o Bibi buzina, contorna, e pergunta ao descer do carro: cadê a galera? Não sei mesmo, cara. Largo a moto por lá e vou até a praça próxima dali, esperar. Tem sorvete, cerveja e tudo mais por lá, ajuda a passar o tempo. No caminho, encontro dois companheiros de fé, que me inquirem esperançosos, segurando um Cantina da Serra: eaê, começou lá? Devem me conhecer dos orkutes da vida, pois nunca os vi. Digo a eles: há somente o cara do bar lá na porta, com 4 barras de gelo derretendo.
Eu ainda não aprendi. Tenho essa mania feia desde moleque. Sou estranhamente pontual. Sou uma aberração, numa cidade que não usa relógio. Não sou fanático. Tolero variações, sou adepto à elas. Aliás, já trabalho minha agenda diária levando-as em conta. O mundo não gira em torno do meu umbigo, eu sei. Chego a me perguntar: será que eu li errado no e-flyer? Júlio WCM confirma que não: realmente era 14:00h mesmo. São 16:30h. Alguns gatos pingados das bandas que vão tocar estão na porta do antigo CETE. Não sou crooner, então desencanei do relógio nesse momento, em que notei que nem ao menos o som estava montado às 17:00h. Bom, o público do evento podia reclamar. Eu te pergunto: Que público? Numa olhada rápida, havia no máximo dez almas infernais esperando o levanta-poeira. Os outros dez eram integrantes das bandas, que no fuso-horário Goiânia Rock City, deveriam estar tocando pelo menos a partir das 16h. Te lembro, caro leitor, não sou fanático, jamais cobraria aqui um show de domingo se iniciar às 14h.
Matei a tarde do domingo toda ali. Desempolguei. Cansei. Estressei. Seria esse o momento de eu levantar o meu dedo indicador e arremessar a culpa nos ombros do mundo todo, ou no mínimo de quem eu tinha no meu campo visual naquele grotesco domingo na Casa das Artes? Não. Esse é o momento que me faz pensar: que porra é essa de cena? Por que, apesar de haver gente que trabalha e tenta, as coisas não fluem? Por que não havia, às 18:30h (olha o relógio, he he he...) literalmente NENHUM novato assistindo ao início dos shows? Sou capaz de citar, nome a nome, quem estava lá. As mesmas dezenas de sempre. É um ciclo vicioso. Os produtores já sabem que não tem público no horário, então eles atrasam a parada. Quando há vários imprevistos como ontem (por volta das 17h, não havia sequer bateria montada), mais atraso. Tinha gente nova na organização: o coletivo GirlPowerUnder. Falei com a Kemy um pouco antes dos shows, e fiquei com um misto de pena e sensação de impotência. Nada podia fazer pra ajudar. Quando o público chega, vemos os mesmos vícios de sempre. O mais foda deles é a mania de pensar que show não tem custo, ou ainda que quem faz o evento nada em dinheiro. Daí, a certeza de que “eu sou especial, posso entrar sem pagar”. Leitura errada do que pode ser a cena hardcore, moçada.
Lá dentro, escadarias, Bibi e sua maldita Nova Schin. Eu não mereço, parceiro. Banquinha montada, bem freqüentada, a parte mais legal do pré-show. Trocar idéia com nerds como o Pedrinho é sempre bom. Ele é minha atual fonte de informações sobre o que é quentura nos players da vida. Rever os velhos camaradas também é massa. Ensaiei um quibe da Tia Kemy, mas minha gastrite severa mal curada desde janeiro me disse que não era uma boa idéia. Ficou pra próxima.
Um puta som, mal regulado, o que é uma pena. Vi o show do Luta sem Descanso. A guitarrista extremamente técnica estava lá. A baixista boa de serviço também. O vocal cansativo da menina front-woman idem. A baterista que não inventa demais, e por isso é boa, lá. O que não estava era o mesmo tesão de um show que eu vi dessas meninas no Martin Cererê. Se não me falha a péssima memória que tenho, foi no mesmo dia em que o Biggs tocou. Saí do pit com o nome delas na cabeça. Assisti ao show, nesta feita, maravilhado. Disse pra um bróder, na ocasião: meu, onde essas meninas estavam? Mas ontem, não foi o dia. Show burocrático. Meninas, agora que voltaram, vou esperar outro show fodástico como aquele do Martin, viu? Como eu sei que vocês conseguem, to no aguardo.
Final de show das meninas, passagem de som do Corja. Passagem de som? Sim. Com tudo montado somente às 18:30h, nenhuma banda passou som, afinou instrumentos, enfim. Não deu pra mim. Precisava ir embora. Sacanagem maior foi a rapaziada começar “Supernaut” e não terminar, durante a passagem. É a minha predileta do Volume 4. Gostaria muito de ter visto o show do Corja, há anos que não vejo. Mas a circunstância não permitiu. Sociofobia, Warnoise, Black Skull, desculpe-me.
Por mais que você, leitor, queira que eu vá apontar o dedo para eleger culpados, eu não o farei. Eu preciso sim é me adequar. Vamos parar de falar do ideal e abraçar o real. Gigs hardcore punk ou metal se tornaram rodas de biriba. Eu que não sou tão entrosado assim, já conheço até as fofocas da galera. O que me anima é ver que tem gente ainda afim de produzir. As meninas do coletivo GirlPowerUnder estão de parabéns pela iniciativa, e eu lamento demais todos os contratempos. Eu vou estar, com absoluta certeza, no próximo evento de vocês. Seja em parceria com a calejada TBONTB ou não. No próximo, eu quero me ater ao show, ao espaço, com gosto. Ontem, meu humor foi amargamente temperado pela maior espera da minha vida por um evento cultural.
Produtores de hardcore, punk, metal e afins: perguntas novas precisam ser feitas. Neste espaço, eu pretendo contribuir, provocando, debatendo, abrindo as portas. Precisamos chegar a uma síntese rápido, para guiar a práxis. Refutamos (sim, eu me incluo) e tripudiamos do discurso de profissionalização do rock na cena goianiense. Será que ele é de todo ruim? Não há nada lá que possamos aproveitar? Na história, são muitos casos em que para haver a revolução, foi necessário um recuo estratégico. E são também muitos os casos em que, através do radicalismo sectário, projetos inteiros de transformação social se perderam.
Talvez, a entrada na terceira década de existência tenha comprometido minha paciência. Pode ser. Coisa de “velho”, querer voltar pra casa no horário programado. Minha esposa operária na pressão pra ir embora, porque hoje às 5:40h ela estava de pé. Tiro a razão dela? De repente, chegou a hora de eu baixar a coleção do Thelonious Monk, comprar uma boina e um pulôver xadrez (eu já uso óculos) e apreciar charutos. Quem sabe.
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veja poucas fotos aqui, que não ficaram legais porque minha máquina fotográfica não é nada boa para ambientes escuros:
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Ouça Thelonious Monk em ação. Eu não conhecia, virei fã. Jazz é louco. Créditos do Blog "Ai, que Jazz!":
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29 de junho de 2009

Um sinal dos tempos: rock, eletrônica, sertaneja... tudo, pra gurizada, vai bem no São João.


Os portugueses da época da colonização do Brasil, que trouxeram pra cá as tradições religiosas das festas aos santos, devem ter se contorcido em suas tumbas. O reduto do quentão, paçoca, milho e que tais foi “maculado” pela presença ostensiva do rock n’ roll. Rock brasileiro, cantado em português. Idéia desenvolvida por cinco professores de um colégio em Aparecida de Goiânia, o Expressão Vestibulares. Com Robert na guitarra, Anderson Chicão e Luís Eduardo Bacural nos vocais, Luís Guga Valente na bateria e o dono deste blog no baixo, os alunos que estavam no “Arraiá do Expressão”, realizado neste sábado 27, puderam ouvir os sons que “bombavam” nas rádios dos anos 80. Época em que a enorme maioria ali nem sequer havia nascido, com exceções de poucos alunos do curso noturno.
Há de se comentar que os “arraiais” de hoje já não são como na minha tenra infância - forró tradicional, tipo Gonzagão, vestimentas parodiando o roceiro e cardápio típico do campo brasileiro, à base de milho. O que se vê por toda a parte são “releituras”: a quadrilha mudou – em alguns lugares virou show de dança contemporânea – o cardápio oferece mais opções, como espetinhos e caldos, nem todo mundo se veste a caráter (eu mesmo não sou adepto), e o DJ contratado toca de tudo um pouco, MENOS forró. As duplas sertanejas “universitárias” ressuscitam clássicos oitentistas do gênero, e uma ou outra moda de viola. Enfim, a geração mudou da minha infância até hoje, e com ela mudou-se a festa junina.
Excelente espaço, muita gente prestigiando (meu falho senso de quantidade me diz que ali havia umas 700, 800 pessoas), e uma diversidade de ambientes fantástica. Alunos esperando ansiosos pela apresentação da Palmatória, nome dado ao projeto dos professores. Era a chance de ver aqueles caras do cotidiano da sala de aula, do dia-a-dia chato das quatro paredes, bancando roqueiros, tardios e fora de forma. O poder de aproximação, de humanização da relação professor-aluno que isso trás, dá um tema de dissertação. Assunto para outros blogues.
Aparelhagem bem precária, que impossibilitou algo mais elaborado. Se bem que não era essa a intenção. A apresentação começou com RPM, “Rádio Pirata”. Clássicos são inesquecíveis, por isso a molecada cantou a música toda, num mix de euforia desorganizada e saudosismo de uma época que eles não viram. “Maior abandonado”, do Barão nos tempos de Cazuza, foi fodástica. “Carta aos missionários”, do Nenhum de Nós, não foi tão celebrada, penso eu por ser menos conhecida pelo público leigo de rock. Um dos pontos altos do show, “Até quando esperar?”, da Plebe Rude, foi gritada pelos presentes de um jeito comovente. Depois, “Vital e sua moto”, do Paralamas, “Ciúme”, do Ultraje, “Meu erro”, Paralamas de novo, “Polícia”, dos Titãs e “Fábrica”, do Legião, compuseram o meio do show. Era moleque pulando, gritando e cantando numa alegria de dar dó. Quem pensa que o rock morreu na boca da criançada, reveja urgentemente seus conceitos. Menininhos e menininhas de 14, 15 aninhos, cantando a plenos pulmões músicas de 25 anos atrás. Foi lindo que só vendo.
Pra fechar a apresentação, a Palmatória escolheu outra do Barão, “Por que a gente é assim?”. Um repertório enxuto por dois motivos: era uma festa de colégio, não um show de rock. E a vida corrida de professor infelizmente não proporcionou mais ensaios (isso me soa muito familiar, he he he...). Mesmo assim, num balanço rápido, foi muito foda ver o poder do rock agindo na molecada. É uma geração menos preocupada com rótulos, mas aberta à diversidade. Os mesmos que pularam, agitaram e suaram no show da Palmatória, cantaram “xonados” os sucessos sertanejos do momento, no show posterior do palco principal da dupla Pedro e Roney, e “dançaram” (não sei se é o termo correto) trance, ou seja lá o que aquilo se chame.
Rock em festa junina, pra essa geração, tem tudo a ver. Eles querem provar de tudo, são mais inquietos, e estão subvertendo o que antes era tradição. Não que isso jamais tenha ocorrido. O que é diferente é a velocidade da mudança. Na festa de sábado, isso foi patente. O resultado que isso trará não há como prever. Não posso dizer que este é o fim das festas juninas, do “pula fogueira iá-iá”. Mas vejo este ciclo como inevitável e cada vez mais rápido.
Talvez este projeto vingue e se transforme em banda, especializada nessa temática oitentista do rock nacional. Me perguntaram na comunidade do orkut “Goiânia Rock City”, se o show seria com o lado “true” do rock brazuca. Não sei precisar, pois isso é muito variável. Eu detesto Legião Urbana com todas as minhas forças, e nem por isso deixo de considerar uma banda válida deste recorte de tempo. Por isso toquei uma música deles, sem problema. Faltaram outros nomes típicos do período. Como eu disse, não dava pra se estender no repertório. Agora, se fomos “truzão”, cada um julgue por si, até porque pra nós isso não fará a mínima diferença. Queríamos nos divertir, divertindo nossos alunos, e isso eu garanto que aconteceu de forma espetacular. Em tempo, eu estava numa puta ressaca e provei quase nada do cardápio. A Dri provou o espetinho, o caldo e o pé-de-moleque. Pelas suas reações, aprovadíssimos. Viva São João.

22 de junho de 2009

As férias do submundo

Celebrar a vida e a diversidade, sem nenhum motivo especial. Foi isso que fizemos aqui, no Rango Rock, neste sábado 20 de junho. Chikão e Roberta, Bacural e Lê, Guga Valente, minha esposa e eu – esse timaço formado de personalidades diversas – tomamos uns e umas, ouvimos muito rock, a contragosto de Adrielle e Lê, que não são adeptas das guitarras destorcidas, experimentamos queijos e comidinhas de boteco feitas pelos anfitriões, enfim, farreamos.
No meu toca CD rolou de tudo um pouco, dentro do mainstream. Isso mesmo, nada de bandas podronas da cena do old school east side true crew muthafuka da Islândia ou da Finlândia dos anos 80. Nenhuma sequer com tremas ou fontes de old english nos nomes. Nenhuma demo de edição limitada de 20 cópias da cena de Osasco de 82. Neste dia, a molecada do Ímpeto tirou férias do submundo. Ouvimos Nirvana, Ramones, Coldplay, Pearl Jam, Metallica, Iron Maiden, Bad Religion e outros tantos nomes que são manjados na MTV e no escambau. A gente também tem direito.
Houve uma única exceção. O último e nem tão novo CD do Motherfish. O papo sobre rock caiu na vertente depressiva. Não que o Motherfish o seja. Mas não há como não evocar a banda e sua melancolia bem trampada num papo assim. E ainda conta que o Bacural não conhecia o trabalho, então resolvi mostrar.
Tombamos 4 garrafas de vinho, todos cotidianos, nada de sofisticado. Um rótulo nacional branco chardonnay, um português estremadura do Dão Sul, filho da puta de encorpado, tanino. Além de um chileno cabernet sauvignon bem melhor do que qualquer outro que eu já tinha provado, nestes 2 anos de estudos, e um sul-africano pinotage comprado a módicos 20 mangos, eleita a melhor garrafa da noite. Em média 23 reais a garrafa, é o que diz a calculadora do meu celular.
Não cheguei a abrir a Sagatiba Velha que eu tenho aqui. Fiz o oferecimento, mas não houve macho que a encarasse.
Cerveja boa à revelia: Brahma Extra ($0,99 no Carrefour Sul, numa promoção relâmpago), Bohemia, Teresópolis e Devassa Loura, todas pilsen.
No cardápio ainda constaram 7 tipos de queijos, entre nacionais e importados. Porção de alcatra no pimentão amarelo e vermelho (apelidada por mim de espanhola), uns frios, amenidades, etc. Sim, foi uma esbórnia pantagruélica. De tamanha magnitude que despertou minha enxaqueca, adormecida há uns bons meses. Crise pós-cachaçada, que arrematou meu domingo.
A diversidade de sabores, perfumes, aparências e texturas do cardápio, é a cara do gosto coletivo que rolou no som dessa noite. Nada de extremismos, apenas sentindo que a “cultura rock” é tão abrangente que poderíamos ficar mais de um milhão de noites apenas pra sacar som. E que isso convive numa boa, no mesmo ambiente, se há um mínimo de tolerância. Estive num fantástico jantar na casa do Guga, onde saboreei uma fraldinha assada espetacular, copiada descaradamente em minha casa uma semana depois (e que não executei com a mesma perfeição, diga-se). Na ocasião, bebemos vinhos muito bons, cerveja boa, com excelente companhia. E ouvimos muito Jazz. Daquelas big bands, tipo deprê dos anos 30, e aqueles mais animadinhos já dos 50. A diversidade é uma virtude alcançável a qualquer mortal. Não precisamos viver o tempo todo pregando que o capitalismo é um mal ou que a fome que assola a África é fruto do imperialismo. Podemos aproveitar a diversidade e absorver aspectos culturais novos que estão diretamente lincados com o mundo do rock. Sem deixar de considerar a raiz hardcoreana.
Quem não conhece o Guga Valente, poderia imaginar que o guitarrista do Ímpeto, banda referência da tosquice anti-cena-profissional, gosta de Shakemakers? Ou que este que digita de cá tem tudo do Coldplay? Ou que o Bacuras, hardcore até o osso, é fã de Alanis Morissette?
Noite em que percorremos muitos lugares diferentes, dentro de uma sala de oito metros quadrados. Noite em que a síndrome dos 30 pegou a gente de jeito (aquela mania de pensar que já estamos velhos), trazendo saudosismo dos bons tempos, que o foram simplesmente porque NÓS estávamos lá. São 15 anos de cena, de minha parte, acho que uns 17 por parte do Guga e Bacural, que são mais velhos que eu (he, he, he...).
E disse o Rock n’ Roll:
“ – Bem aventurados os partidários da diversidade, porque eles são os fodões”.

15 de junho de 2009

Retomando o projeto

Amigos, eventuais leitores e afins: reativaremos o blog e sua idéia central. Tudo resolvido com o provedor de internet, com a máquina e com a preguiça que tentou desmontar o projeto. Semana que vem, mais textos sobre rock e comida.
Uma prévia do que vem por aí: duas lendas da cena hardcore punk de Goiânia vem ao QG do Rango Rock. E é claro que vamos arrancar deles informações e opiniões que paguem a estadia deles por aqui. Estamos falando de Guga Valente, o multibandas, e Luís Eduardo Bacural, o eterno moleque hardcore. Em pauta, a própria cena, vinhos, queijos (sim, somos frescos), cervejas e rock. Vai ser massa.
Aguarde.

3 de fevereiro de 2009

Problemas com a atualização do blog:

Amigos: estamos com sérios problemas no equipamento que edita o blog, ou seja, nosso PC. E sem a maldita internet desde domingo à tarde. Morte à empresa NET. Que esta queime eternamente no inferno. Desrespeito absoluto com o cliente, que paga pontualmente as mensalidades.

Além disso, como tragédia pouca é bobagem, um raio fritou nosso PC nesta segunda, 02/02. Portanto, não sabemos quando poderemos publicar os próximos números do blog. Sinceras desculpas, leitores.

Atenciosamente,

André Alemão.

26 de janeiro de 2009

E se não fóssemos do "clube"? Rolê no Capim.

Veja mais fotos do evento em www.flickr.com/photos/andrelopeserl .
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HC Attack, no Capim Pub, 24/01/09. Um rolê punk como há muito tempo eu não via. Um esquema massa, muitos amigos e conhecidos, barulho de primeira qualidade (por mais contraditório que isso possa soar), cerva gelada e casa lotada. Perfeito. Maravilhoso, para quem tem referências neste universo da cena.
O Capim Pub é do tipo de lugar que já é lendário. Será papo de velhos saudosistas daqui a algum tempo. É tido como a casa verdadeiramente underground da cidade. Tem uma história legal, de abrir as portas pra bandas iniciantes e produtores que não tem tanta grana ou patrocínio pra gastar. Desperta apaixonados debates na cena, sobre o que é ou não é ser alternativo. É visto como o reino da tosqueira, nas duas acepções mais comuns do termo aqui na cena goianiense. Referência no universo punk/hardcore e metal. Por tudo isso, eu me sinto em casa naquele lugar. Mas, será que pra quem não é “da galera”, não é iniciado, o Capim Pub é uma atração que vale a pena? Isso me martelou na cabeça mesmo antes de sair de casa.
Rolê no Capim, pra equipe do Rango Rock, começa no hipermercado bem próximo dali. Sabemos da oferta de cervejas do pub, freqüentamos o espaço há muito tempo. Então, alguns goles de cerva boa e barata antes de chegar ao evento. Evoco uma expressão que fez relativo sucesso em nosso texto passado, agora toda em maiúsculas, pois vi que tenho companheiros na causa: GOIÂNIA-QUE-NÃO-CUMPRE-A-PORRA-DO-HORÁRIO-ROCK-CITY. Cara, isso é foda. Grande parte do problema no HC Attack (e qualquer outro evento na casa) esteve no próprio público: às 14 horas, o Capim estava jogado às moscas. Não havia ninguém lá. Voltamos pra casa, literalmente. Moramos próximos dali (2 ou 3 quilômetros).
De volta às 3 e meia, mesma cena. Desconfiamos sobre um cancelamento do evento, mas não. Era atraso mesmo. Voltamos para o hipermercado, mais algumas “verdinhas” geladas, para retornarmos às 4 e alguma coisa. Surpresos? Jamais. Tínhamos exata noção de que ia ser assim. Por isso, estávamos relaxados. Na área descoberta, nos fundos do Capim, um papo massa com gente massa (Pedro, seu nerd! he, he, he...). Isso faz a diferença por lá. Som, cerveja, amigos, relax.
Os shows começaram próximo das 18h. A rapaziada do Sevandija, projeto dos caras do Ressonância Mórfica, arregaçou com grindcore potente, e um cover inusitado de Titãs. Esses moços destilam agressividade musical, numa performance bombástica. Não há como não lembrar da bíblia do estilo; Napalm Death no início da insanidade. Bom projeto paralelo, moçada. O d-beat europeu do Death From Above me fez lembrar da minha primeira fitinha K-7 do Discharge, “Hear nothing (...)”. Virulento. Soa como clássico. Pôs a galera pra bailar. Quando a experiência e a competência do ARD subiu ao palquinho apertado, o calor já dominava o ambiente, deixando a galera mais agitada ainda. O ARD mostrou um pouco da sua história e justificou porque pode ser chamado de lenda do hardcore brasiliense. Show solto, descontraído, como a maioria que rola no Capim. Com toda a certeza, a temperatura interna estava acima dos 30 graus. Eu pensava nos suecos do Civil Olydnad: deviam estar passando maus bocados aqui nos trópicos. Chuva, umidade e calor, muito calor.
Um pouco tímidos no palco, mesmo tocando. Mas o som era coisa fina de se ouvir: um punk rock rápido, sem virtuosismos desnecessários, direto. O bando de malucos escandinavos só reforçou a “verdade” de que o lugar lá é um celeiro de rock massa. O “obrigado” com sotaque, após cada som, era uma forma de expressar o que se via no rosto dos caras: eles piraram pra galera, que fez do Capim o portal do inferno! Pogo insano no pit, covers mais inusitados ainda: Galinha Preta e RDP. E mais uma vez o Rango Rock foi prejudicado pelo atraso no início de um evento: tínhamos compromisso inadiável, e saímos antes da apresentação do Atomic Winter, que se iniciou bem depois das 8 da noite. Pena, de verdade. O que vimos nos deixa na obrigação de parabenizar Natal e Segundo: puta escalação de responsa. Nenhuma banda verde.
Se valeu a pena? Não via algo assim há muitos anos, já disse. A cerva lá é cara, mas estava gelada. Sugiro ao Afonsinho que tenha mais Brahma no estoque da próxima vez, e não me obrigue a tomar Bavária. Não há mesas, cadeiras, conforto... e quem se importa? O fuso horário de 4 horas de atraso não foi problema insuperável, eu já sabia dele. Não há o que comer, embora um misto quente esteja anunciado numa empoeirada tabela de preços. Aliás, quem é “de casa” improvisou um rango ali antes do evento. Não me aprofundarei pra não falar daquilo que não fui chamado à comentar, he he he...não há banheiro decente, e eu poderia continuar a lista do “não há” com muitos outros caracteres. Mas eu prefiro a lista do “Há”. Há atmosfera de amizade, sinceridade, verdade. Há música boa. Há relax, há menos pose, há descompromisso com inúmeras outras relações que perpassam por profissionalismo da cena. Proposital mesmo. É a velha espontaneidade adolescente do hardcore. Há gente que busca isso. O “clube” é reduzido, mas não é fechado, e a prova de admissão pode ser muito bem um evento no Capim Pub.
Quem não é “iniciado” tem que ter em mente o que vai “comprar” quando topa ir ao Capim. Tentei me colocar na pele de alguém que não fosse do “clube”, e imaginei que eu iria embora às 4 da tarde, após esperar mais de duas horas pelo evento. Ou quem sabe ao tomar ciência das marcas de cerveja oferecidas. Até mesmo ao ver o banheiro masculino. Depende. E vale a pena, pro moleque que nunca pisou por lá e nunca esteve na “cena”? Olha, a julgar pelo que ouvi de alguns alunos meus que estavam lá, sim. Parece que foram contaminados pelo vírus da tosqueirice. Penso que entender o que se passa em um evento deste não é da boa vontade de todos, mas se isso ocorre, o hardcore se fortalece naquilo que ele tem de mais verdadeiro.
O Capim Pub é a extensão do quintal de casa (ou da sacada do apê, no meu caso). Entra, pega emprestada uma bermuda, põe a havaiana azul com branco e relaxa. É positivo isso? O Rango Rock acha que sim. Mesmo bebendo a maldita Bavária. Mesmo esperando quatro horas pelo evento, mesmo de pé o tempo todo. E só vai concordar quem tem o vírus do hardcore correndo nas veias. Aqueles que não, vão continuar achando que não vale a pena, que é porco, sujo. Pelo que vi sábado, estes não fizeram, não fazem e nunca farão falta alguma.

22 de janeiro de 2009

Vontade de gritar! 10 anos de Ímpeto.

http://rapidshare.de/files/43072402/_mpeto_-_Can__es_para_novelas_globais.rar.html

Cara, lá se vão 10 anos. Permitir-me-ei usar alguns lugares-comuns aqui: como foi rápido, parece que se passaram 10 meses de Ímpeto. Não, não pretendo resenhar minha própria banda, não sou tão estúpido. Mas deixa eu dizer pra vocês algumas coisas sobre o Ímpeto, que irão soar mais como memórias, relatos de algo que fiz e faço e que julgo legal.
Uma brincadeira de 4 amigos de ETFG, que começou com o bizarro nome de “Screaming in Silence”, em 1997, e que duraria 3 ou 4 ensaios. Depois, como Ímpeto, no início de 1999, o primeiro show (se é que se pode chamar assim) com menos de 10 sons, incluindo alguns covers, no Cantoria, que recebia o 1º Domingão da Brodagem. Isso mesmo, cara-de-pau imensa, em madeira de lei, da nossa parte. Bacuras e Didi gritando, Jander no baixo, Guga Valente baterista e André Erl (ainda sem o Alemão) na guitarra.
Tento não me render ao saudosismo: a experiência no Cantoria ainda mexe muito comigo. Participei diretamente da organização dos “Domingões”, na Liga Hardcore de Goiânia. Tempos de extremismos bobos, típicos da adolescência. Enfim, lembrar de tudo aquilo me emociona de verdade.
Desse extremismo também vinha a proposta estética musical do Ímpeto: antimúsica (acertei a nova grafia?), subverter a estrutura da música. Assim eram feitos os sons.
Muitos shows aqui, também no DF, algumas cidades do interior. Pouca divulgação, pouca importância em estabelecer padrões para o som, e o compromisso apenas com o bem-estar em se fazer música barulhenta. Tosco por opção, por ideal, he, he, he...
Talvez por nascer como um projeto alternativo de seus integrantes (Bacural, Guga e eu tocávamos em outras bandas), o Ímpeto nunca tenha sido a real prioridade, dentro do rock, para seus membros. Isso é um palpite, não é uma verdade. Mesmo em fases onde o som fluía numa facilidade espantosa.
Quando Júlio WCM entrou para as baquetas do Ímpeto, a banda deu um salto de qualidade visível. Compúnhamos músicas novas em todos os ensaios. O grande problema é que estes aconteciam (e acontecem) a cada seis meses. Acredite. E muitos sons legais eram esquecidos. Tocamos inúmeras vezes sem ensaios. Sim, este folclore é verdadeiro. Não é lenda não. Mas o entrosamento entre nós é tão grande, que tocar os sons antigos, de 10 anos atrás, é quase automático.
Eu costumo chamar de “fases” alguns momentos distintos da banda. Eu já estive fora do Ímpeto por mais ou menos um ano. Cheguei a pogar em show do Ímpeto, sem estar na formação. Foi quando Guilherme C(h)oice esteve na guitarra, meu posto na formação original. Dedicava-me exclusivamente ao Kundaline, neste ínterim.
Daniela Canhête, ex-Èlet, esteve conosco. Vi poucas pessoas, em 16 anos de rock, com sua atitude. É alguém que tenho no meu panteão goiano do rock. Ela sabe disso.
Lúcio Didi é nosso Chuck Norris. Não houve, não há e não haverá baterista mais pedreiro que ele. Furando peles constantemente, em ensaios e shows, devido à força com que batia. O cara era 0% de gordura, e levantava caminhão de brita com dois dedos. Uma das pessoas mais sinceras e honestas que eu conheci na vida inteira, nestes 29 anos.
Janderjans Monteiro, o Jander Joaninhas, o cara da flanela. O primeiro baixista do Ímpeto. Cidadão tocantinense, espírito de baiano, contador de “causos”. Passou muito tempo sendo baixista sem o ser! Ha, ha, ha, ha!!! Companheiro das 1ªs brejas, após nos tornarmos “caídos”, ex-straight edgers. Putz...
Nunca ri tanto enquanto Alexandre Senhori WCM esteve no Ímpeto. O cara é uma figura! Espontâneo, nos matava de rir nos ensaios. Virtuoso, inventava suas próprias bases, que nada tinham a ver com os sons. Descobrimos isso e mais uma vez, demos pala. Nino, do Castelo Rá-Tim-Bum.
Vegetarianismo. Eis um mote permanente nos primeiros anos. Éramos todos vegetarianos. Alguns inclusive se rotularam SxE. Fiz isso num curto espaço de tempo, mas fiz. Não usávamos álcool, nem marijuana. Garotos bem-comportados. Negávamos uma boa picanha maturada, passávamos longe de um cupim gotejando colesterol. Histórias mil de sofrimento por estes ideais, que faziam todo sentido, anos atrás, pra nós da banda. Quantos "X-Quaresma" detonamos? Quantos litros de refrigerecos diversos (Coca-Cola era pra vendidos alienados)? Hoje, apenas Bacural e Júlio continuam se alimentando saudavelmente. Devem ter muito menos colesterol que eu, são bem mais magros, mais ágeis, não ficam bêbados nunca... enfim, COITADOS! Não sabem o que estão perdendo, he, he, he, he... Estou cooptando Júlio pro meu time. Já tenho excelentes resultados.
A primeira demo foi em K-7, tosca. Um ou outro material em coletâneas pelo Brasil afora, e só.
O novo material mescla sons antigos e novos. Vai ser lançada de forma organizada. Pretendemos dar um gás novo ao Ímpeto, tocando mais, ensaiando e compondo mais.
O Ímpeto é assim, existe porque a necessidade de gritar às vezes é muito urgente. Existe porque a amizade ali é forte demais. Existe porque já virou lenda, folclore caricato da atitude moleque hardcore. Existe porque é sincero, ninguém ali faz pose. Existe porque é necessário na vida de seus integrantes atuais: Bacuras, Júlio, Guga e eu. Da minha parte, hardcore até onde der!

19 de janeiro de 2009

Saiu a primeira resenha sobre o RangoRock!

Já no número #2 eu quebrarei uma regra interna do blog: lançar texto fora das segundas-feiras. É preciso.

Depois de pagar muito bem o Eduardo Inimigo do Rei, ele escreveu n'O Grito do Inimigo algo sobre o blog. Você pode ler aqui: http://ogritodoinimigo.com/index.php/2009/01/rangorock-saboreie/

Aproveite para ler os hilariantes flashes policiais que Rodolfo Morais está colocando por lá. Tive a impressão de estar com o Notícias Populares nas mãos, na minha infância paulistana.

É nóis, he, he, he...

Resistência roqueira no Esconderijo: desencane para aproveitar!

Saudade, palavra triste... aô chão goiano! Quisera eu gostar de sertanejão (ou como queira chamar). Lugares diversos não faltam pra se ouvir “moda” e beber em um plúmbeo domingo. Do boteco sujo da periferia ao mais requintado bar em “área nobre”. Eu tenho saudade sim, dos domingos do Cantoria, ou dos mais recentes “Capim Rock”. Mas como este saudosismo é bobagem, me dispus a conferir algumas alternativas que vem aparecendo no rock daqui. Despi-me da preguiça em observar outras tendências, que não o hardcore e o punk, em suas diversas subclassificações. Lá vai a “equipe” Rango Rock pro rolê hard rock. Domingo com o Zeca Camargo, nem pensar.
“Goiânia Rock-que-não-cumpre-a-porra-do-horário-City”. O evento, marcado para as 18, começou às 20:40h. For Those About To Rock, no Esconderijo Bar, com mais de um ano aberto, e somente agora visitado pelos membros desta equipe. Cena inusitada: músicos e técnicos de som à espera do dono do estabelecimento, que ainda não estava aberto no horário marcado para os shows começarem. Recuso-me a comentar. Fred Mika foi certeiro: não interessa em que Igreja roqueira você confessa, algum descaso com o público por parte dos donos das casas sempre existe. Mais tarde a gente volta aqui.
Bar sem frescura em “área nobre” (expressãozinha filha da puta essa, não?). Ponto positivo. Entramos 7 e alguma coisa, o serviço começou às 20:10h. Fazendo jus à expressão “copo sujo”, nossa equipe começou a trabalhar numa Antarctica Original dentro de um copo sabor cupim bovino. O pedido ao garçom pra lavar o copo foi mal interpretado, sendo apenas trocado por outro, sabor picanha. Vá lá, é só não cheirar o danado. Uma cerveja “quase pedrando” não é vantagem. Aquele semi-sorvete não tem sabor, não dá pra sacar se é falsa. Aliás, é um truque que muito bobo cai. A segunda garrafa pedi apenas gelada, e não congelando. Original originalíssima, gostosa como deve ser. Preço de sempre, nada exagerado, na casa dos 4 reais.
A banda Devon subiu ao palco desfalcada, num duo de vocal/violão e bateria. Logo de início, excelente set list. Clássicos de Iron Maiden e Black Sabbath na fase Dio, entre outras coisas. A “equipe” vibrou, atingiu em cheio nossos gostos. Poucas músicas próprias, identifiquei duas. Não vou analisar covardemente os caras, que tiveram a decência de honrar o compromisso sem 60% da banda. A Jackie’s Knife foi a surpresa da noite. Nunca tinha ouvido nada deles ao vivo. Sabia apenas dos covers de Guns n’ Roses, uns muito bons, outros nem tanto. Rapaziada da banda, façam um favor a vocês: invistam em composições próprias, vocês são bons. O vocal é seguro, afinado. Escorrega de vez em quando, poucas notas atravessadas.
O que me irrita é ver amigo da onça gritando insistentemente aos meninos: “Toca Guns!”. Vá introduzir um falo no orifício anal, porra! Bons músicos como eles devem tocar composições próprias, oras. O Mötley Crüe foi massa, mas insisto: toquem mais coisas de vocês.
Acompanhando o som, uma porção de batata frita. Eles servem aquelas do tipo congeladas, não são cortadas na hora. Gostosas e secas. Com a Original, então... Diga-se de passagem, bom cardápio para um bar. Clássicos do gênero e boa variedade de cervejas, pra todos os bolsos. Nem tanta para uísque e vinhos. Só “os de sempre”. Não há cerva importada no cardápio. Enfim, é como dissemos: bar sem frescuras. Preços honestos.
Quando o Sunroad subiu ao palco, a janta dominical chegou: porção de frango frito à passarinho, bem acebolado, sabor batata frita. Me esqueci de pedir ao garçom para não servir os dispensáveis alfaces murchos que classicamente acompanham esta “comidinha de boteco”. O sabor da batata pedida anteriormente, marcando o frango frito, me diz que a cozinha é bem econômica, para ser otimista.
Preciso comentar sobre a competência do Sunroad? Banda profissional, com muita estrada e vários títulos “cheios” no mercado. Comprei a coletânea da banda, e ouço-a enquanto escrevo. Rock até o talo, moço! Pra quem gosta do gênero, como eu, prato cheio. Destaco o som Midwest Sand. Ao vivo, ficou matador.
A última Original veio matematicamente gelada. Excelente. Tomamos a obra de arte durante o show do Sunroad. Maldita Lei Seca, maldita vida de operário: não assistimos à apresentação da Seventy Now. Pena mesmo. Passava muito das 23h quando saímos do bar.
Gente diferente, público bom, menos do que esperávamos. Atendimento rápido, com poucos pecados. Banheiro decente. Bar com cara de rock, “decorado” pra isso. E o que me deixa puto é ver um bar “sertanejo” lotadásso, “bombando”, bem próximo dali. Pode acontecer que um dia o Esconderijo perceba que abrir pro “público do chapéu” dá mais grana do que sustentar o sonho de um bar alternativo. Será só mais um lugar legal que o público roqueiro não soube valorizar e que se rendeu. E não teremos direito de reclamar. Os donos lá devem ter muita conta pra pagar. Observamos alguns probleminhas no serviço da casa, mas não recomendar que você vá até lá seria de uma burrice sem tamanho da nossa parte. A “noitada” hard rock valeu a pena. Superamos o fato de termos sido desrespeitados no horário e no pedido do copo limpo. Não ligamos pro frango sabor batata frita. Acomodados? NUNCA! Apenas pensando que a relação custo-benefício pode ser legal, se você desencanar. Assim é o Esconderijo. Lugar pro rock, que tomara não se renda fácil ao sertanejo universitário. Pra esse público, Goiânia ferve de domingo à domingo. Deixe o rock sobreviver, porra!

Motherfish + uma garrafa de vinho.



Um sábado passado por aí foi dia de rock na residência da família Alemão. Celebrar é preciso, sempre, mesmo sem motivos aparentes, vai por mim. Separei uns CD’s que há tempos não ouvia: Sonic Youth, Radiohead, Fugazi. É necessário atmosfera, meus jovens. Os casados devem me entender melhor.
Preparei uma janta massa: lombo assado com pimenta verde, talharim ao molho de champignon. Nada soberbo, nada esnobe. Mas no capricho e bem feitinho.
Para acompanhar etilicamente, um achado: pra quem curte vinho, já deve ter visto em redes de hipermercados alguns títulos legais. E preços acessíveis. É óbvio que nada de extraordinário. Vinhos legais pro dia-a-dia. A vida ainda não me permite gastar três dígitos em uma garrafa. Em um desses mercados, encontrei uma garrafa de legítimo Dão, tinto que só, porrada nos sentidos. Barato, o que me deixou muito feliz. E neste dia de rock a dois, aqui vai ele.
Entre uma troca de discos e outra, um outro achado supimpa de 2008: excelente relação custo-benefício, nacional, ou melhor ainda, regional. O selo de procedência não é dos meus prediletos, poucos títulos me empolgam por lá. Mas este em especial me surpreendeu. E isso não me sai da memória sensorial: que disco massa esse do Motherfish. Ele foi o disco que tocou na hora da diversão: carne + vinho + massa + mulher bonita + boa música = puta sábado. Uma simples e eficiente equação.
Ao abrir o disco, não se deixe enganar pelo primeiro gole. As músicas iniciais remetem a um monte de coisa boa, mas de modo peculiar sempre: Cure, Radiohead, pop britânico. Parece que vai ficar somente nisso. Mas não, deixe seu paladar musical trabalhar um pouco. Não se apresse. Vá ouvindo detalhes. Até um Ramones é evocado nesse exercício. A atmosfera criada vai se tornando cada vez mais própria, mas intimista. Até que o grandioso chega: Kerouac Days, som pra te deixar melancólico. Docemente melancólico. Regado à vinho português então, virge...
E no final, relaxe e deguste os últimos goles do melhor que a terra goiana oferece. O Motherfish é despretensioso. É competente. Dosa bem a boa ironia, com uma melancolia que não chega a ser amargosa, nem forçada. E taí no seu quintal, mermão. Sem regionalismo pedante.
Outros sábados acontecerão degustando boa música feita na “quinta” República. Fica aqui uma impressão pessoal e uma recomendação. Longe de ser uma crítica, a intenção foi dividir coisa boa com você. Aproveite.
Aprecie sem moderação:

12 de janeiro de 2009

Entre “ser e não ser”...

“Não tomo café-da-manhã em casa, faço-o no trabalho, lá pelas 10 horas. Em geral, pão francês, frito ou com toneladas de margarina, se esta for boa. E mais ou menos meio litro de café. Não é força de expressão. Meu almoço não tem hora certa, A cada dia da semana, pela agenda de trabalho, como em um horário diferente. Às vezes, meio-dia, às vezes duas, três da tarde. Depende. Arroz, feijão, carne. Quando almoço fora, maioria das refeições, carne gorda de churrasco. E mais café. Depois de muita Coca-Cola. Mato uma de 600ml numa facilidade espantosa. Raramente como algo à tarde. A janta é sempre farta: mais carne, mais Coca-Cola. Em finais de semana, costumo comer bem... Massa, um doce, cervejas (nunca sei a quantidade certa), e mais carne. Quando tem rock, abro mão do jantar tradicional: como uma bobagem qualquer antes de sair (resto de carne, pão com ovo, algo do gênero) pra depois do auê, comer um sanduba, de preferência “podrão” da Praça Cívica. Com Coca-Cola. Ou quem sabe Habib’s da Praça Tamandaré. Geralmente 6 a 8 esfihas e muita... Coca-Cola. Deito-me, pra dormir, pouco tempo depois. Mas isso só ocorre depois de bebericar à pampa no rock. Tenho uma tolerância imensa ao álcool. Tomo uma caixa de cerveja em lata na boa, sem problemas. Não fumo nada, nem cheiro.”

Quando terminei meu relato à doutora gastro, onde fui me queixar de uma dor de estômago persistente, ela estava com o olhar perdido, com um leve toque de nojo na face pálida. Ao arrematar meu conto de horrores, disse-lhe que me medicava sozinho, sem orientação médica: cloridrato de ranitidina, ou omeprazol. Soma-se o fato de eu ser completamente sedentário. Ela suspirou e pausadamente me disse que assim eu não chegaria aos 60 como uma pessoa saudável, isso SE chegasse, e que era preciso imediatamente mudar os hábitos alimentares.

Então, estive diante de um dilema: e minha postura auto-destrutiva de roqueiro, como fica? Gordura, álcool, Coca-Cola e café são vitais para meu organismo. Se fico sem eles, bate uma tristezinha sem fim. Mas por outro lado, meu estômago é uma colônia de bactérias, e está caminhando a passos largos para uma úlcera gástrica. É o que dizem os exames, com a deselegante expressão “gastrite crônica severa”. Porra...

De repente, eu vejo todo um estilo de vida sendo ameaçado. Como freqüentar o rock sem beber? Ou como disse a doutora – “beber comedidamente”? Como almoçar no fim de semana, não sendo um legítimo viking? Estes hábitos fazem parte da minha identidade pessoal, oras...

Posso tentar, sem dúvida. Afinal, ouvi uma taxativa doutora me alertando sobre um enfarte prematuro, ou uma úlcera estomacal. Não quero nada disso. E sei que também não quero deixar o “tudão” da Praça Cívica após o Martin Cererê. Não quero beber “comedidamente” nos shows, porque assim não tem graça. Não há como ser roqueiro fodão sem chapar (é óbvio que esta é a MINHA concepção de roqueiro fodão).

Pensar que uma noitada rock envenena tanto a ponto de condenar à morte prematura me assusta. Lógico, há casos e casos. Você pode ser mais resistente que eu. Seu eletrocardiograma pode não acusar leve arritmia como o meu. O rock já fodeu meu ouvido, sou parcialmente surdo. O rock já desgraçou meu bolso, com o vício de discos, guitarras, baixos, cubos e etc. O rock já me meteu em “n” encrencas. Agora, constato que ele está ali, em meio ao complô contra meu organismo. O filho da puta está me tentando. Parar de beber? Comer saudavelmente? NUNCA! Pelo menos enquanto o rock circular nas veias. É isso que ele me diz.

Enquanto me acabo frente a esta decisão – deixar de ser eu e ser saudável, ou continuar a ser um troll e morrer logo – eu me propus a observar o que entra pela minha boca dentro do rock, aqui em Goiânia. E desdobrar isso, em múltiplos assuntos que possam surgir. Grande parte dos meus problemas estomacais eu devo ao rock! E é através dele que quero compartilhar algumas opiniões sobre o que comemos na “rock city”. Lugares, comidas, bebidas, shows e eventos ligados ao rock serão aqui comentados, não como crítica profissional, pois não tenho este gabarito, mas como forma de debater um assunto interessante. Eu vou me divertir muito...