19 de março de 2010

PRIMEIRO FELIZARDO!!!

O leitor Bruno Abnner foi agraciado com um ingresso na faixa pro evento Capim Caos. E tudo o que ele fez foi comentar de maneira muito pertinente, diga-se, o texto abaixo.
Então, daqui pra frente, seja esperto como ele: esqueça a porra do orkut e interaja aqui conosco.
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Parabéns, Bruno. O blog ficou lisonjeado com os elogios e considera seu comentário sobre a temática do texto proposto muito equilibrado e perspicaz. Bom show!

15 de março de 2010

Desligando-se.

(Texto para a promoção cultural do evento Capim Caos. Comente sobre ele, os dois melhores comentários ganham ingresso para a gig!)
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Há trinta e sete minutos atrás começou mais uma segunda-feira. O Ignite canta baixinho nas minhas caixas pífias, “Embrance”. Faltam 5 horas pra recomeçar todo um ciclo, onde eu me religo com um mundo que está me desumanizando. Café, trânsito, trabalho, trânsito, almoço de plástico, trabalho, trânsito, casa. Qualquer fuga a isso, e sou punido pelo tempo policiado, pois atrasos em prazos aparecem. Rotina. Desencanto.
Eu sou idealista quanto à minha profissão. Não caí de pára-quedas nisso tudo. A sala de aula me realizava. Hoje, sou empregado de todo um sistema de fazer grana, ligado à indústria do vestibular. Lamentável, triste.
Seguir em frente porque há a coersão do mercado e da própria sobrevivência. Me vejo castrado e impotente frente a isso. E estou profundamente cansado, física e mentalmente. Sou mais um do “clube”, que infelizmente toma consciência do seu papel degradante nessa porra toda. Gostaria, agora, de não ter senso crítico e me esbaldar tranqüilo em todo o crédito que me é oferecido, para que eu me enterre pra sempre nesse esquema. Eu compraria a felicidade, que seria entregue em casa, financiada em até 60 meses sem entrada. Uma dúzia de malditos que li uns anos atrás nos bancos acadêmicos não me deixam ser feliz e mergulhar nessa.
Eu costumava me livrar de tudo isso, pelo menos momentaneamente, me envolvendo minimamente com hardcore. Eu sonhava com o mundo melhor ao alcance das minhas mãos. Ouvindo discos, traduzindo letras, tocando em bandas, indo aos eventos, lendo e escrevendo fanzines. Enfim, o de sempre pra todo mundo que gosta de hardcore e punk.
Eu costumava sonhar hardcore, hoje não mais. Eu ainda vejo meus amigos por aí e me divirto. E isso me faz bem. Eu ainda ouço muitos discos, bons como esse do Ignite que me faz embargar a voz, mas minha fé está se esgotando. Eu ainda vejo muitos fanzines na internet e fora dela (em Goiânia, quase nada), mas me cansei dos mesmos erros de português, e da mesma falta de objetividade de sempre na esmagadora maioria deles.
Eu tinha uma ilusão, que só se desfez tardiamente. Eu imaginava que era possível, neste mundo em que nós vivemos, abandonar uma perspectiva individualista e construir uma via alternativa coletiva pro hardcore goianiense. Pessoas somando com outras, e deixando o ego guardado em casa.
Eu me iludia a ponto de vislumbrar mesmo um esquema que se auto-sustentasse, pra produzir arte contracultural, à margem da pespectiva conservadora e embalsamada do rock. Eu jurava que podia fazer parte de um momento único (porque eu estava lá) em que o hardcore seria verdadeiramente contra-hegemônico, e que idéias circulariam em diversas formas de mídias. Seria o meu Rosebud, guardada a empáfia da comparação.
E toda vez que me reaproximo da cena hardcore, vejo que estou mais enganado. Salvo as exceções que sempre existem, a mesma coisa de outros dias: só música, só entretenimento, só diversão. Não é que eu não goste de me divertir. Mas eu gostaria de acrescentar algo à minha formação como ser humano também. Curtir som é massa, saber por que ele foi escrito, é melhor ainda.
Ideologicamente, a gente vai se desligando. Mantém o que herdou da coisa toda. Mas, como organicamente o hardcore chegou ao seu limite na vida de um cara com 30 anos, o que resta é pensar outras formas de tentar romper a gaiola na qual estou preso. Ao assistir a uma manifestação artística de hardcore hoje, não sinto mais meu mundo mudando. Sinto meu mundo se amenizando, me dando um tempo.
Não consigo relativizar tanto o conceito de hardcore a ponto de dizer que vale tudo dentro da música. O punk hardcore nasceu com identidade. Parte dele foi realmente cooptada, pois não há donos da arte, ela faz parte do espírito humano, já dizia o filósofo. Mas a essência ainda poderia ser trabalhada: resistência. Ao reproduzirmos o discurso da arte pela arte, este cara aqui desanima.
Mesmice no trabalho, punhetagem de conteúdo pra passar no vestibular. Mesmice no hardcore, punhetagem na produção artística e discurso vazio, como cabeça de adolescente pós-moderno.
Quem nunca ouviu/entendeu o Ignite, taí uma sugestão.