12 de julho de 2010

A Velha Guarda na ativa: Underground Forces e Mortuário no fim de semana.

A Copa do Mundo não me empolgou mais depois das derrotas do Brasil para a Holanda nas quartas, e da Alemanha para a Espanha, na semifinal. Esta última eu considero a maior injustiça do campeonato. Na minha opinião de torcedor, ganhou o caneco uma seleção de futebol medíocre, que em momento algum despertou brilho neste olhar aqui. Sim, está certo que o futebol alemão nunca foi técnico e bonito, mas é de longe a melhor aplicação tática do mundo, e isso é gostoso de ver. Acrescento que, nesta Copa, eles ainda contaram com talentos individuais que trouxeram leveza ao jogo deles. Algo que faltou aos montes do lado verde-amarelo. Dunga e seus selecionados foram longe até demais frente ao futebol pobre, medroso e burocrático que jogaram. E essa é a graça do futebol: nem sempre ganha quem a gente quer. Quando me lembrei do jogo final, passavam 30 minutos do primeiro tempo. E tamanha foi a modorra que ele me proporcionou, que preferi rever pela milésima vez um episódio de Law & Order, temporada 2009. Muito mais interessante.

Na primeira parte do domingo de ressaca, procedemos a recuperação física pós-Underground Forces, no Old Stúdio. Puta evento massa na nova casa do Marcelão. O underground goianiense passou todo ali, e se há alguém que pode narrar parte considerável desta história, é aquele polaco gente fina. Torço aqui para que vingue esse novo espaço. Natal e Segundo estiveram na retaguarda do evento, que contou com All Torment, Old Place, Golpe de Foice e Tirei Zero no “palco”. Não tinha cara de “show”, na acepção da palavra (envolvendo uma produção, voltada ao público, interessada em retorno, enfim...). O lance foi algo semelhante à uma festa de amigos e chegados. Ou as “duas coisas”, como diria Chiquinha Maria Antonieta de las Nieves.

Comprei dois novos discos na banca da Two Beers, que marcava presença lá no Old Stúdio. Lançamentos goianos, ambos: O EP independente da banda de Formosa, Golpe de Foice, intitulado “Câncer da Terra”, que havia sido recomendada dantes. E a patada da capital – Mortuário, “Vidro na Cara”, lançado pelo selo dono da banquinha. Ao assistir a apresentação dos moços de Formosa, as referências imediatas são do mais puro grind core. Você se lembra de Disrupt, Extreme Noise Terror, Napalm Death das antigas. E se você é apreciador de boas canções do gênero, assim como este aqui que segura a pena do lado oposto do monitor, entendeu que é coisa fina de se ver/ouvir. O fôlego do baterista é irritante para alguém que, assim como eu, mal consegue subir as escadas do prédio onde mora. Sobre o disquinho, gravação caseira de boa qualidade, projeto gráfico pouco audacioso que muito lembra as demo tapes dos anos 80 e 90, tudo em preto e branco. Temas recorrentes ao universo punk hardcore em letras que primam pela simplicidade. Mensagens diretas: condenação de emos (parênteses para deixar aqui meu estranhamento com a letra, por ser pobre, preconceituosa e incitar a violência gratuita), anticlericalismo, degeneração da raça humana, crítica à politicagem, anarquismo e “canibalismo social”. Seis sons próprios e um “cover” de Extreme Noise Terror. Riffs e bases rápidas bem sacadas. Eu sei que vou ouvir mais vezes, apesar dos pesares. Meus anos de radicalismo ficaram pra trás, mesmo eu não sabendo se isso é de todo bom ou ruim.

Eu assisti aos shows de metal. Aliás, a idéia era essa por parte dos organizadores: tentar promover a famigerada “união” da galera hardcore punk com metaleiros (nossa, me senti nos anos 80 usando esses rótulos! he, he, he...). Se vai dar certo, eu não sei. É esforço antigo. Veremos. Gostei do All Torment, achei bacana. O Old Place teve sua audição prejudicada pelos beborríveis presentes, que não me deixaram sacar direito a banda. Pena, pois eu estava muito interessado em conhecer. Farofeiros de Goiânia, uni-vos!

Deixamos o evento após o show do Tirei Zero, banda da qual faço parte, tocando guitarra. Cansados, minha esposa e eu. Dali, apeamos no “nosso” bar, tomamos uma breja e um caldo. Caldo de fim de noite é sagrado para garantir o dia seguinte. Taí uma dica para os iniciantes na carreira etílica.

Recuperados do rolê no dia seguinte, ficamos em casa mesmo. Uma boa carne frita, coxão mole limpo de gordura, fatiado em tiras. “Nosso” açougueiro não cobra a limpeza, pesando a carne sem a gordura. Já vi alguns que só eliminam totalmente a manteiga após pesarem a peça. Fique esperto, pois isso é ilegal. Bem acebolada, com muito alho, uma pequena e charmosa dose de pimenta do reino. E nós gostamos de shoyu, apenas para aplacar parte do possível azedume da cebola. Pouco também, algumas gotas. Escolher bem a “matéria-prima” é o único truque para comer bem. Carne fresca, limpa e bem temperada, cortada respeitando a disposição das fibras, frita em bom azeite. Sucesso.

A Bohemia de hoje não é a mesma de 15 anos atrás. Você, eu e as pedras de Pirenópolis sabemos disso. Não sei exatamente quando isso ocorreu. Mas está cada vez menos interessante pagar mais por um produto que já não tem o diferencial frente aos demais similares no mercado. O lúpulo que dava o sabor característico à marca está menos proeminente. E venho observando esta queda qualitativa não só na pilsen que tomei neste domingo. Desonesto, desestimulante. Até mesmo o aroma foi prejudicado. Há uma década, identificava-se Bohemia pelo olfato. Acredite, jovem bebedor.

Mesmo assim, no copo próprio, que se encontra em muitos lugares por aí, a espuma continua cremosa. Das pilsens nacionais de larga escala, é de longe a melhor e mais saborosa. E ainda combina com a nossa carne frita. E serviu para regar a audiência do disco do Mortuário. Bolachinha na bandeja do toca CD, Dri na cama para uma soneca pós-almoço. Pra ela, é pedir demais. Tímpanos sensíveis.

Ao abrir a caixinha, tem-se um projeto gráfico legal, que pretende acompanhar a proposta do trabalho da banda. Discreto e obscuro o encarte. Evoca-se sangue, barulho, confusão mental, referências políticas. Porco e Bush: par bem casado. Linkado com o som de abertura do disco, “Bagdah”. Excelente introdução temática, com uma produção dando ênfase ao peso do som: guitarras cruas saltam aos ouvidos. Riffs rápidos e solos bem montados. “Boca Suja” vem com um riff muito foda de introdução também, continuando o tom da primeira música, numa levada death metal. O vocal do Aurélio é assustador durante todo o disco. Daqui do alto da prepotência do meu gosto musical, eu não gostei das intervenções de vocal do Foca, assim como eu não gosto ao vivo. “Vidro na cara” trás uma introdução massa assim como as duas primeiras, old school mesmo. Há um riff no meio da música que lembra Sepultura do Arise ou Beneath the Remains. E meu medo é que isso não soe como elogio, vai saber, né? A porradaria agressiva, suja, descrente de inúmeros valores sociais, continua em “O Seu Pior”. Tenho receio em sair carimbando trabalhos alheios com rótulos indesejáveis, mas o lance é mesmo um death metal com pitadas de hardcore metal. Pesado e consistente. O tímpano fica completamente preenchido o tempo todo.


A partir de “Camburão Negão”, passando por “Barriga” e indo até “Porcaria”, percebemos uma queda de fôlego, de inovação. Os sons ficam menos elaborados, mais crus. Tem-se a impressão de que os três sons são na verdade um só. Talvez (e põe talvez nisso, pois aqui neste blog o lance gira em torno do achismo mesmo...) falte tons diferentes de música para música. Os riffs são bem trabalhados, rápidos, mas em certo ponto enjoam.

A retomada veio em “Mendigo”. Solos que lembram muito, mas muito mesmo bandas thrash metal oitentistas. “Pinga no Garrafão” (com uma homenagem ao lendário Marcão) e “Verme” encerram o festival de sarcasmos, ironias e descrença com convenções sociais que são destilados neste disco. Bem pensadas para o final, trazem elementos que espantam de vez a pequena monotonia do meio do trabalho. O “gran finale”, com um arranjo bonito de percussão, ficou diferente, minimalista diria eu, he, he, he...

E é lógico que meu leitor sabe que impressões pessoais são deveras diferentes de resenha ou crítica profissional. Compre, ouça e depois me diga você o que percebeu.
Errei na mão ao calcular a quantidade de carne que iríamos comer. Sobrou demais. Comida esquentada é uma lástima. Minha sorte é que já tenho começado o almoço de segunda-feira. Nada convidativo, eu sei. Mas é a realidade.




Um comentário:

Aurelio disse...

seu maluco;
quando for fazer essas orgias alimentares me chama que não sobra carne hehehehehe valeu a resenha André

pra qualquer banda que se preze, ser comparado ao Sepultura
tem que ser entendido como elogio fudido velinho

as músicas que vc achou pouco elaboradas são antigas e mais punks
influência direta deste porko que vos habla hehehehe

obrigado mesmo e achava nosso som mais caido pro thrashão mesmo

mas é elogio também perceber pitadas de death metal

nunca me prendi a rótulo e estou pouco me fudendo kkkkkkkkkkkkkkk

bração mermão