Estava tudo certo. O roteiro do fim de semana se iniciaria no República, onde rolou uma festa insana, segundo tive notícias: o “Projeto Barulho”, em sua primeira edição. Depois, o itinerário seria uma boa churrascaria de Goiânia, onde comemoraríamos, a dois, o aniversário da Dri, minha esposa e a metade feminina da equipe do blog.
Estava tudo certo. Mas...
Tínhamos uma visita para recepcionar na tarde daquele 30 de janeiro. Planejada para as 17hs, e sabendo que somos brasileiros e não britânicos, esperava-a por volta das 18hs. Conhecendo o fuso-horário Goiânia Rock City, tinha plena certeza que show no República, só depois das 22hs. Ficaria por ali até próximo da meia noite, para depois ir jantar.
“Visita de grego”. Chegaram às 21hs. Minha paciência e humor já não existiam. Todo o plano foi por terra. Engraçadíssimo foi oferecer um cardápio de lanche em horário de jantar. Gostei muito de fazer isso, para salientar como um desconfiômetro de vez em quando não faz mal. Bolo, refrigerante, sucos, salgadinhos, às nove da noite. Bem apropriado, para fazer lembrar o quão atrasada está uma visita.
Não saio de casa com o humor tão abalado. Sábado em casa, fazendo sala. Sorriso amarelo-frustração, convenção social, e o gosto azedo inédito de uma mazela do matrimônio.
Domingo é deprimente por si só. Essa é a impressão que eu tenho, ao levantar-me nessa “prima féria”. Neste último, fiz o clássico programa familiar – almoço na casa materna, e tudo o que isso representa pro campo da memória gastronômica. Geralmente, a mãe é o primeiro referencial de qualidade que temos: nosso paladar é moldado de acordo com o que ela nos apresenta na tenra idade. O que é bom ou não dependerá do quão se aproxima daquilo que desperta em nós a lembrança boa da infância. Essa é uma das magias da culinária. Não interessa se sua mãe não sabe executar um prato de acordo com o convencional. Para você, aquele é e sempre será o melhor que você já provou. A complexidade de texturas, aromas, gostos e outras sensações mais nos fazem viajar pra longe, no tempo. Uma simples macarronada com frango e Coca-Cola é capaz de fazer você se debulhar em lágrimas. A comida caseira é a melhor coisa do mundo. E eu tenho uma pena sincera de quem não sabe o que é isso.
Eu tenho plena convicção de que o estado emocional da pessoa pode ser transferido para a comida que ela prepara. Eu evito ao máximo cozinhar quando estou de mal com a vida, ou algo que o valha. Sempre ocorrem catástrofes nestes dias. Esta minha “tese” ajuda a explicar porque comida caseira é tão boa, mesmo sendo a mais simples possível. Havia dias que não via meus pais. Senti cada toque da saudade e do carinho da minha progenitora naquele simples macarrão. Já disse o mundo publicitário: o segredo é o amor. Se possível, não sendo com Zezé di Camargo e Luciano ao fundo, por favor.
Tenho alimentado muito meu player com “comida” goiana. Não a típica. Aquela com cara de chão vermelho e árvores retorcidas pouco me seduz. Ando apreciando releituras goianas de clássicos de outras paragens: grunge, britpop, rock n’ roll, death metal. E a cada dia que passa me convenço mais que por aqui, a produção está entre as melhores do Brasil. Coisas que também mexem com minha memória, que também trazem sensações gostosas, assim como comida caseira. Música caseira, eu diria.
Não é segredo pra ninguém que eu gosto muito de britpop. Oasis, Blur, Coldplay, Rascals, enfim. Em Goiânia, já havia rasgado muita seda para o Motherfish, que bebe dessa fonte. E tinha me esquecido do Barfly, banda que comecei a admirar depois de um Bananada da vida. Não tenho este último disco deles em CD, somente em mídia digital. Meu inglês é muito limitado, mas o que deu pra sacar foi um puta trabalho conceitual, coisa digna de gringolândia mesmo. As sacadas com o “tempo”, faixa a faixa, são muito boas. As melodias remetem à um trampo completamente autoral e intimista, sem parecer, hora nenhuma, cópia de inglês deprimido. O Barfly me ajudou a driblar o domingo de derrota do “melhor do mundo”, o Atlético Clube Goianiense, em Catalão. Tá, eu sei, é som de indie amarelinho de óculos de aro grosso. É esse o rótulo da banda, pra alguns. A dica que eu dou pra essa galera é largar de ser besta, abrir o horizonte musical e aproveitar essa iguaria local, feita com ingredientes caseiros. Digna da aprovação dos melhores chefs desse gênero, nessas Manchesters da vida. É um disco que eu vou ter em mãos. Prometo.
E se o lance é despertar sensações de outras eras, o que eu posso dizer quando eu ouvi a demo do Spiritual Carnage, de 1997? O blog da Two Beers, que disponibilizou o material, está arrebentando. Segundo, seu fanfarrão, cuidado com estas coisas, cara! Assim, você mata esse coração tosco! Explico: o Spiritual Carnage foi simplesmente o primeiro contato com o underground que tive em toda a minha vida. Conhecia um primo de um dos caras da banda, o Alaerte, ali na BCL. Minha quebra, assim que cheguei a Goiânia. Eram tempos de andar de preto, biquinho maligno, cruzes invertidas no pescoço, anéis nos dedos, ouvir orações ao Satanás ao sabor de Chora Rita. Como aquilo tudo foi divertido! Ao sacar de novo a demo, todo o filme passou na minha memória. Embora eu não tenha absorvido absolutamente nada das pregações do death metal, restou o gosto pela atitude under e a técnica do som. Essa banda é heróica, só isso.
Dois trabalhos distintos, onde a honestidade é patente. Você ouve e sente a essência da coisa toda ali dentro. Produziram com amor (ou ódio, he, he, he...) e sinceridade. Pelo menos esta é a leitura que faço deles. Você aufere a alma das pessoas envolvidas em trabalhos como estes. Por isso, é tão bom.
Há muita junk food por aí, nos últimos lançamentos interneteiros. Dessas, não comento em específico. Não vale a pena falar de Big Mac se eu tenho em mãos a comida de fogão de lenha da vovó. E não ouse dizer que tem horas em que o bife compactado do Ronald é uma boa pedida, porque daí você não precisa voltar nesse blog mais. Prefiro peneirar os bons trabalhos de pessoas que gastam tempo e neurônios pra produzir, a engolir banalizações sem sentido, que não acrescentam vírgula.
Tomara mesmo que este final de semana seja mais promissor. Amargar novamente o desconforto do calor no meu “apertamento”, num sábado, seria muita crueldade. Há várias opções, estou estudando qual seria a mais interessante pra um rolê. Já estou com saudades de assistir uma boa apresentação, de preferência de bandas que gosto.
Estava tudo certo. Mas...
Tínhamos uma visita para recepcionar na tarde daquele 30 de janeiro. Planejada para as 17hs, e sabendo que somos brasileiros e não britânicos, esperava-a por volta das 18hs. Conhecendo o fuso-horário Goiânia Rock City, tinha plena certeza que show no República, só depois das 22hs. Ficaria por ali até próximo da meia noite, para depois ir jantar.
“Visita de grego”. Chegaram às 21hs. Minha paciência e humor já não existiam. Todo o plano foi por terra. Engraçadíssimo foi oferecer um cardápio de lanche em horário de jantar. Gostei muito de fazer isso, para salientar como um desconfiômetro de vez em quando não faz mal. Bolo, refrigerante, sucos, salgadinhos, às nove da noite. Bem apropriado, para fazer lembrar o quão atrasada está uma visita.
Não saio de casa com o humor tão abalado. Sábado em casa, fazendo sala. Sorriso amarelo-frustração, convenção social, e o gosto azedo inédito de uma mazela do matrimônio.
Domingo é deprimente por si só. Essa é a impressão que eu tenho, ao levantar-me nessa “prima féria”. Neste último, fiz o clássico programa familiar – almoço na casa materna, e tudo o que isso representa pro campo da memória gastronômica. Geralmente, a mãe é o primeiro referencial de qualidade que temos: nosso paladar é moldado de acordo com o que ela nos apresenta na tenra idade. O que é bom ou não dependerá do quão se aproxima daquilo que desperta em nós a lembrança boa da infância. Essa é uma das magias da culinária. Não interessa se sua mãe não sabe executar um prato de acordo com o convencional. Para você, aquele é e sempre será o melhor que você já provou. A complexidade de texturas, aromas, gostos e outras sensações mais nos fazem viajar pra longe, no tempo. Uma simples macarronada com frango e Coca-Cola é capaz de fazer você se debulhar em lágrimas. A comida caseira é a melhor coisa do mundo. E eu tenho uma pena sincera de quem não sabe o que é isso.
Eu tenho plena convicção de que o estado emocional da pessoa pode ser transferido para a comida que ela prepara. Eu evito ao máximo cozinhar quando estou de mal com a vida, ou algo que o valha. Sempre ocorrem catástrofes nestes dias. Esta minha “tese” ajuda a explicar porque comida caseira é tão boa, mesmo sendo a mais simples possível. Havia dias que não via meus pais. Senti cada toque da saudade e do carinho da minha progenitora naquele simples macarrão. Já disse o mundo publicitário: o segredo é o amor. Se possível, não sendo com Zezé di Camargo e Luciano ao fundo, por favor.
Tenho alimentado muito meu player com “comida” goiana. Não a típica. Aquela com cara de chão vermelho e árvores retorcidas pouco me seduz. Ando apreciando releituras goianas de clássicos de outras paragens: grunge, britpop, rock n’ roll, death metal. E a cada dia que passa me convenço mais que por aqui, a produção está entre as melhores do Brasil. Coisas que também mexem com minha memória, que também trazem sensações gostosas, assim como comida caseira. Música caseira, eu diria.
Não é segredo pra ninguém que eu gosto muito de britpop. Oasis, Blur, Coldplay, Rascals, enfim. Em Goiânia, já havia rasgado muita seda para o Motherfish, que bebe dessa fonte. E tinha me esquecido do Barfly, banda que comecei a admirar depois de um Bananada da vida. Não tenho este último disco deles em CD, somente em mídia digital. Meu inglês é muito limitado, mas o que deu pra sacar foi um puta trabalho conceitual, coisa digna de gringolândia mesmo. As sacadas com o “tempo”, faixa a faixa, são muito boas. As melodias remetem à um trampo completamente autoral e intimista, sem parecer, hora nenhuma, cópia de inglês deprimido. O Barfly me ajudou a driblar o domingo de derrota do “melhor do mundo”, o Atlético Clube Goianiense, em Catalão. Tá, eu sei, é som de indie amarelinho de óculos de aro grosso. É esse o rótulo da banda, pra alguns. A dica que eu dou pra essa galera é largar de ser besta, abrir o horizonte musical e aproveitar essa iguaria local, feita com ingredientes caseiros. Digna da aprovação dos melhores chefs desse gênero, nessas Manchesters da vida. É um disco que eu vou ter em mãos. Prometo.
E se o lance é despertar sensações de outras eras, o que eu posso dizer quando eu ouvi a demo do Spiritual Carnage, de 1997? O blog da Two Beers, que disponibilizou o material, está arrebentando. Segundo, seu fanfarrão, cuidado com estas coisas, cara! Assim, você mata esse coração tosco! Explico: o Spiritual Carnage foi simplesmente o primeiro contato com o underground que tive em toda a minha vida. Conhecia um primo de um dos caras da banda, o Alaerte, ali na BCL. Minha quebra, assim que cheguei a Goiânia. Eram tempos de andar de preto, biquinho maligno, cruzes invertidas no pescoço, anéis nos dedos, ouvir orações ao Satanás ao sabor de Chora Rita. Como aquilo tudo foi divertido! Ao sacar de novo a demo, todo o filme passou na minha memória. Embora eu não tenha absorvido absolutamente nada das pregações do death metal, restou o gosto pela atitude under e a técnica do som. Essa banda é heróica, só isso.
Dois trabalhos distintos, onde a honestidade é patente. Você ouve e sente a essência da coisa toda ali dentro. Produziram com amor (ou ódio, he, he, he...) e sinceridade. Pelo menos esta é a leitura que faço deles. Você aufere a alma das pessoas envolvidas em trabalhos como estes. Por isso, é tão bom.
Há muita junk food por aí, nos últimos lançamentos interneteiros. Dessas, não comento em específico. Não vale a pena falar de Big Mac se eu tenho em mãos a comida de fogão de lenha da vovó. E não ouse dizer que tem horas em que o bife compactado do Ronald é uma boa pedida, porque daí você não precisa voltar nesse blog mais. Prefiro peneirar os bons trabalhos de pessoas que gastam tempo e neurônios pra produzir, a engolir banalizações sem sentido, que não acrescentam vírgula.
Tomara mesmo que este final de semana seja mais promissor. Amargar novamente o desconforto do calor no meu “apertamento”, num sábado, seria muita crueldade. Há várias opções, estou estudando qual seria a mais interessante pra um rolê. Já estou com saudades de assistir uma boa apresentação, de preferência de bandas que gosto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário