9 de fevereiro de 2010

Sábado de fast-food no Martin Cererê: Covernation 2010.

Eu era sempre um dos primeiros a bradar contra eventos de covers. Eu era intransigentemente contra ocupar espaços culturais com embustes e micagens dos ídolos do mainstream, já que é tão difícil conseguir tais espaços.
Eu era.
Sábado 6 último eu mudei minha opinião parcialmente: estive no Covernation. Saquei que aquilo é muita diversão em um lugar só. O evento mobiliza a cidade, ou pelo menos parte dela. A gurizada vai à estratosfera da felicidade. O Martin Cererê lota. É sem dúvida um dos grandes eventos de rock do calendário goianiense.
Eu explico minha implicância com bandas/eventos covers: nada é produzido, tudo é copiado. É a reprodução de algo às vezes já pasteurizado pela grande mídia de rock. É enfadonho porque não há surpresas, sabe-se exatamente o que vai acontecer.
A salva-guarda do festival em questão foi exigir das bandas inscritas trabalho autoral. Achei isso bacana da parte do idealizador, Richard Ferreira. Assim, evitou-se a principal crítica que este tipo de festival suscita: tirar a vez de quem rala tentando criar seu próprio trabalho.
Por outro lado, o estigma de cidade que gosta mais de covers do que de suas próprias “crias” continua: o Covernation leva mais público do que 80% dos festivais ao Martin Cererê. Dentre n outros fatores, justamente porque a rapaziada público-alvo sabe que só vai ouvir seus heróis de MTV. Ou outros clássicos não tão conhecidos do grande público televisivo, mais ultra-sacados no mundo dito alternativo. Em suma, ainda é um festival de covers, imitações, algumas bem baratas, e isso não se pode apagar.
Volto a dizer: me diverti pacas. Poguei, gritei, subi ao palco e cantei um som inteiro do Cólera, na fodástica apresentação do Sangue Seco, topei vários camaradas das antigas e das novas, poderia ter juntado uma turma toda de alunos lá dentro (uns 20 no mínimo), enfim. Ainda assim, não saía da minha cabeça a pergunta que não consigo responder: por que o público goianiense tem esse fascínio tão grande por projetos covers? Talvez eu finja não saber a resposta, pois assim fica mais cômodo raciocinar. Talvez. Um dia a gente volta aqui, certamente.
Chegamos por volta das 4. Pelas histórias a mim relatadas, eu esperava encontrar uma fila e quem sabe até não conseguir encontrar ingressos promocionais a 5 reais. Ledo engano: tudo tranqüilo e sossegado, ingressos na mão e um estranhamento inicial – Martin vazio. No folclore do Covernation constava pontualidade, e isso não demorou muito para ficar só no mito mesmo. Atrasos em eventos de rock são parte de um culto poderoso, indestrutível. Fiquei feliz pelo pouco atraso, e isso já é um começo.
Aos poucos, o lugar foi enchendo das mais variadas espécimes da fauna roqueira. Fico realmente impressionado como essa rapaziada de agora tem disposição para “tunar” a aparência: tatuagens, piercings, cabelos coloridos por mais cores do que eu imaginava existir. Um festival de excentricidades. A molecada ainda quer chocar, é fato.
Sábado de sol goiano, sempre acima dos 30°C. Adrielle e eu merecíamos uma cerveja gelada. Li em algum lugar que o bar seria terceirizado. Algo sobre a Fósforo assumir. É comum eventos patrocinados oferecerem somente uma marca de cerveja, mesmo sendo uma de muitas de uma mesma multinacional. Sinceramente, não sei se foi o caso do Covernation. Fato é que só havia uma marca disponível: Skol. Sabemos da facilidade que isso pode oferecer para trabalhar com caixa, ao padronizar valores. Porém, no quesito agrado ao público, isso pode ser um desastre. Ao comprar cerveja ouvia um ou outro reclamar sua marca favorita, não presente no bar. O vício do povo brasileiro por filas é algo hilário: em frente ao caixa perfilavam-se 20 pessoas, enquanto no guichê de entrada do Martin comprei minhas fichas de água e cerveja sem ninguém a minha frente.
Minha primeira lata acredito ter saído diretamente do pacote, passado por um espanador de poeira e servida a mim. Quente. Nem fria. E choca. Não acredita? Pois eu vou repetir pra quem mais quiser ler isso aqui: choca. Entendo que contensão de gastos é importante. Entendo que sobrar cerveja em um evento já ocorrido acontece. Mas daí a ser servida pra mim, e qualquer outro consumidor desavisado, peralá. Chega a ser insultante o staff do bar imaginar que um consumidor regular de cerveja não reconheça um produto deteriorado.
Começo com pé esquerdo. Mas cara, era sábado. E nesse eu ainda não trabalhava. Precisava de muita coisa pra derrubar meu humor. E ao entrar pra ver o Ultravespa mandar um Cascavelletes, banda que realmente eu não me interesso, tudo voltou a ser ensolarado. Puta show legal de se ver. Gosto muito quando se vê a alegria no rosto do músico no palco. Levei o show como se os sons fossem deles. Facilitou eu não me lembrar de muita coisa da banda homenageada. Ainda bem.
A segunda cerveja deve ter ficado uns 10 minutos no freezer. Estava fria. No terceiro gole já havia se igualado à primeira. E isso por extorsivos 3 reais. Um verdadeiro absurdo, incompreensível. Não tive coragem de bancar o consumidor consciente frente à simpatia dos atendentes. A terceira lata eu pedi que fosse trocada. Duas vezes. E não adiantou. Continuei recebendo latas de cerveja frias, nada convidativas. Junta-se a isso o fato isolado de eu não ter a Skol na lista das mais. Sim, essa parte de bar fudeu mesmo.
Fui seletivo quanto aos shows. Só experimentei algo diferente vendo o Ultravespa. Estava ansioso para ver os Engravatados mandando sons da única banda que me empolga na geração 80 do rock brasileiro: Ultraje a Rigor. E acredite: foi um puta espetáculo! A banda é deveras competente, executou as músicas com maestria. Coisa bonita de se ver. A energia contagiou o público, que começou a se soltar no pit. Todos os clássicos, músicas cantadas em coro com a moçada.
Minha fome teve vergonha de prosseguir a aporrinhação quando ela soube do preço do cachorro-quente: 3 reais e 50 centavos. A única iguaria comestível no ambiente. Me parecia um bom bate-entope: muito condimento, recheio generoso. Tamanho diminuto, porém, para a pequena fortuna cobrada por ele. Quem é assíduo freqüentador de pit-dogs sabe do que estou falando.
Precisava sair do Martin para esperar amigos que haviam combinado de aparecer no evento. Ponto de referência: Praça Cívica, posto. Esperando e me deliciando com Heineken gelada por modestos R$2,70. Isso sim. Deixa eu destacar de novo uma parte importante: gelada. E Heineken. Numa loja de conveniência, que ganha horrores no preço final da cerva. Aproveitei a deixa: tomamos 4 verdinhas.
Quando de volta ao Martin, eu ouvi o Sangue Seco conclamando as hordas hardcoreanas com golpes brutais nos tons da batera, dando início à “Medo”, hino do Cólera. Eu disse a mim mesmo: meu sábado de diversão começou. O repertório perfeito, a energia pulsando do palco (mesmo com o Eduardo Inimigo, vocalista, insistindo no discurso “somos velhos e blá, blá, blá”), a interpretação seca e violenta, virulenta da banda – eu fotografava, eu cantava, eu pogava. Eu não, nós. O teatro inteiro. No pit, a ritualística roda se abre: a molecada dava mostras do que o rock é capaz, onde ele vai além das demais estéticas musicais.
Fim do show, camisa bege do Cólera empapuçada de suor, a Kodakizinha com pilhas fracas e fotos beirando o ridículo. Não adiantava regular o flash. Não havia mais força nas pilhas para tanto. Outra Skol pra ratear o calor? Não, obrigado. Meu bolso, meu paladar e minha vergonha na cara agradecem.
Eu vejo os Ramones como um rito de iniciação: a coisa toda tem de começar ali. One, two, three, four é básico. Deveria ser matéria escolar. Os Bizarrones fizeram jus a esta minha posição. Dizer que se ateram aos clássicos seria ingenuidade: há como fazer um show só de clássicos de mais de 2 horas. Você, eu e as pedras de Pirenópolis sabemos disso. Uma verdadeira avalanche de hits. Muitas fases da banda sendo abordadas. Show incrível. Cantei muito. Não nos microfones, super disputados pelo público. Moshs insanos, pois a segurança passou a aliviar a barra. Festa bonita de se ver.
Tirei um dia pro fast-food. O Covernation é um espetáculo que, para o público comum, como eu, é bem organizado, em comparação com outras experiências por aí. Mas é fast-food. Enlatado. É a celebração do trabalho alheio, no caso da música que eu ouvi por lá. É hiper-divertido, agrega público que dificilmente cola em outros eventos, movimenta a cena. Mas tem contra si a atitude de incentivar o trabalho não autoral, mesmo com a exigência de que só participassem bandas autorais. O público presente reafirma seu gosto pela produção artística não-autônoma. Isso é “cultural” por aqui.
Fast-food: é uma delícia na hora. Deixe 10 minutos ao relento e você terá comida cancerígena, dizem uns. Muito boa pedida de vez em quando. Você come, satisfaz a necessidade de gordura saturada e açúcar e por dias, seu cérebro fica feliz. Com música também é assim. Cover de vez em quando é muito legal, vi isso de perto. Mas se rola sempre, enjoa. Dá câncer na cena local. É prato de consumo rápido e esporádico. Se eu pudesse recomendar algo, eu diria que um evento desse tipo por ano é a pedida. A julgar pelo público que ele arrastou para o Martin neste sábado, penso que alguns produtores não estão interessados em deixar esse filão pra lá. Richard terá concorrentes em breve, eu sei.
Após o show dos Bizarrones, Dri e eu nos demovemos. Precisávamos comer algo, e em nenhum momento nos sentimos atraídos pelo cachorro-quente, a ponto de ir contra nossos instintos e desembolsar R$3,50. Há um bom bar em frente ao nosso prédio, que serve uma senhora porção de filé de frango grelhado por 15 lascas. E Brahma 600 ml noiva por 3.
Tenha certeza: no próximo Covernation eu estarei lá. Não sei se com o blog, mas estarei. De vez em quando, comer fast-food é bom para a alegria.
Veja aqui algumas fotos legais, outras nem tanto:
Não tive tempo hábil de editá-las. Prato cheio, hein? Divirta-se!

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