13 de junho de 2010

Quanto vale o Dia dos Namorados?

Foi interessante ver o shopping na tarde deste último sábado. Trabalho em um colégio que funciona no subsolo de um desses templos do “ter é ser”, a atual religião que arrebanha mais e mais fiéis na elástica classe média brasileira. Centenas e centenas à procura do mimo para a alma gêmea. Estacionamento lotado, cheguei 5 minutos atrasado à sala de aula porque não consegui uma vaga próxima. Dia dos namorados. É isso.

No clima de romance e pra não deixar a chama fraquejar, depois de 2 anos e meio de matrimônio, convidei meu broto para um programa que prometia aquecer os corações vacilantes nesta data tão especial: Baile dos Solteiros, Capim Pub. Animando o ambiente, segundo o e-flyer, Ultravespa, Black Queen, Johnny Suxxx & The Fucking Boys e a banda que embala sonhos de tórridas paixões: Os Canalhas, mais canalhas do que nunca com seu acústico bem-te-vi. Digo segundo o e-flyer porque devido ao horário de trabalho de minha esposa, só chegamos às oito e pouco, após o início das apresentações. Não sei ao certo quem tocava quando entramos: Ultravespa ou Black Queen. Sei que era bom demais, a ponto de eu me dirigir ao baixista deles e mencionar minha felicidade ao ouvi-los, coisa que pela minha timidez patológica, eu raramente faço. O moleque é deveras competente.

Pelo erro de chegar mais tarde, confiando no fuso-horário Goiânia Rock City, sempre 4 horas atrás do horário oficial de Brasília, nos demos mal. Melhor, pagamos caro. Literalmente. Uma pequena fortuna, considerando-se o espaço: 10 paus por cabeça. O velho Capim Pub mudou muito pouco desde que abriu para a música alternativa. A estrutura continua adequada apenas para algumas propostas de eventos. E no nosso humilde entender, não suporta coisas minimamente sofisticadas. Em suma, é tosco. É bom estar lá, mas não é legal ter que segurar a porta do banheiro para usá-lo. Não é legal beber cerveja morna a extorsivos 3 mangos, com a lata fedida. Não é legal não haver conforto para sentar e beber. Mas ainda assim, conta com minha presença em intervalos regulares de tempo. Por que? De certa maneira, essas faltas têm seu charme. E desta vez, havia marcas além da detestável, insuportável e degradante Nova Schin. Bebi 3 Antarcticas. Repito, mornas.

Um excelente público para os shows. Pensando que ainda chegariam mais pessoas para a festa após as bandas, arrisco-me a dizer que o evento foi um suce$$o. Tinha muito tempo que eu não via Johnny Suxxx. Gostei de novo. Não havia as plumas e paetês como da última vez em que os vi, dando aquele toque de escracho próprio deles, mas os senti empolgados tocando. E sabemos que isso vaza ao público. Acaba contagiando. Na segunda música eu já estava batendo o pé, marcando o ritmo. Eu precisava ouvir algo diferente neste dia. De tempos em tempos, saturo-me de hardcore e punk.

Escrevi o segundo parágrafo deste texto completamente influenciado pela proposta desconfortante d’Os Canalhas. Interessante, eu me lembrei do Fat Mike e seu palhaço alter ego ao estar presente em mais uma apresentação da mais pura canalhice pequizeira. A banda estava desfalcada. Ainda não os vi com as backing vocals. E o front man, Wander Segundo, continua com sua voz aveludada.

A proposta da banda é interessante, é inteligente, é instigante. O problema é ter estômago para agüentar Segundo, o “vocalista” da banda, cantando. E de terno. O problema é ter de castigar os tímpanos com o violão desafinado da banda, tampado por uma guitarra que tocava de tudo, menos a música em execução. Não saquei mesmo se era intencional, ou se o guitarrista se perdia. Fato é que eram dois universos paralelos. Repertório digno do “Cantinho do Coração”, programa das madrugas nas FM’s, com aqueles locutores que mandam recados sussurrados do tipo: “- alô, Graziellen! Me liga, to te esperando! Beijo, do seu Wescleynalton”. Ou aqueles programas em que o som rola e o locutor, com voz de disk-sexo, traduz simultaneamente a letra melosa. Infelizmente, o tempo estourou e tivemos que ir embora antes do fim da apresentação. Infelizmente? Bem...

Sei que ao cruzar o portão de saída, meu coração apertou ao lembrar do valor pago para ali entrar. Ou seja, custo-benefício prejudicado na minha conta. Dez paus já valeram mais na cena goianiense. É certo que houve a festa posterior (procede, não é mesmo?), e não a aproveitei. Mas assim mesmo, continua caro. Não pretendo pagar esta dezena de merrecas tão cedo pra ir ao Capim Pub. O meu senso moral me diz que mais de 5 dinheiros é ultrajante, em se tratando do que é oferecido ali. As bandas que estiveram no palco, cada uma com sua proposta, são excelentes e o valem. Não havia nenhuma “verde” na escalação. O meu chororô se refere à casa, e não ao espetáculo.

Dali, seguimos para nosso bar de estimação. Todo mundo que gosta de bar, tem algum que guarda no lado esquerdo do peito. Eu já fui ao antigo Bar da 3, e detestei a experiência. Me lembro de poucos lugares tão ruins. E há pessoas que idolatravam o lugar. Acontece. Já saí de casa para pagar 5 reais em uma cerveja, e recebi um copo americano sujo para consumi-la, depois de apodrecer uma hora na fila. As pessoas que estavam comigo não se importaram, e tiraram muitas fotos para seus álbuns de orkut. Afinal, estiveram ali, naquele bar da moda. Quer porcaria maior que aquele antigo Praia? Então.

Gosto de ser conhecido e chamado pelo nome no bar onde bebo. Gosto de receber tudo muito limpo e decente. De pagar um preço justo por aquilo que como e bebo. De ter conforto, mesmo sendo nas cadeiras de plástico da Skol. E principalmente, de ter o mesmo serviço, se não melhor, que os bares badalados do Bueno e Marista, em frente ao meu prédio. Esse ponto encerra com chave de ouro meu score.

Uma bela e bem servida panelinha de lingüiça caseira, muito bem executada. Simples, despretensiosa, com gosto de comida de mãe. Arroz, lingüiça, tempero à pampa e só. E Antarctica por modestos R$ 3,20. Gelada ao ponto. A noite só começou. O disco de estréia do The Kooks (Inside In Inside Out, de 2006) nos aguardava na vitrola, após o jantar. Um espumante nacional vagabundo já estava na geladeira desde o fim da tarde. O resto é história.

2 comentários:

Michael disse...

Pagar 10 dinheiros pra entrar no CAPIM é um absurdo mesmo. O shopping estava lotado mesmo. E nada melhor do que fechar a noite no bar preferido tomando AQUELA gelada por míseros 3,20 ou 3,30. =)

Eduardo Mesquita disse...

O famoso boteco na porta do prédio, ainda preciso ir lá. Texto preciso e precioso como sempre, Alemão. Essas conside~rações sobre o ponto de vista do cliente servem para o Capim como para qualquer lugar. Cerveja quente, lata fedida e detalhes afins são inaceitáveis para quem está pagando. Claro que quando é você quem diz, dá mais credibilidade. E isso é bom. Parabéns!