Machadian Metal. Estava eu pensando: por que não? Estou imbuído de uma causa: conhecer o maior escritor brasileiro de todos os tempos com mais profundidade. O título de “maior” fica por conta de quem entende, então eu uso também. Comprei uma obra de contos, publicada originalmente em 1896, “Várias Histórias”. Fará conjunto com outras que tenho e não leio tanto, os romances. Consta na introdução do livro que foram contos publicados no jornal Gazeta de Notícias – conheço o periódico por ser assíduo leitor da Revista de História, da Biblioteca Nacional. Se todas as pessoas que admiro por serem inteligentes me dizem que Machado de Assis é legal, por que não tentar ver o que há de bom na obra do cara? Não sou muito chegado do realismo brasileiro, comecei mal a leitura do Machado, através do romance Quincas Borba. E então, diante do desafio auto-imposto, me peguei ruminando: que tal lançar o Machadian Metal? Puta enredo massa, dramático o suficiente, seria Bentinho’s doubt. Já imaginou? Tá, eu sei que não, é necessário ser muito frito para tanto. Mas tente: elementos de modinha portuguesa, bem a cara do Rio em fins do século XIX, olhe lá até mesmo um chorinho entre passagens de scream, breakdown e peso. Riffs em ré menor, corpse paint. The lady who give the cards já seria algo metalcore, enfatizando a desconfiança. Ou quem sabe Vilela’s revange? Não me decidi. Mas tenha certeza, ainda nesta semana colocarei um tópico na comunidade Goiânia Rock City, para montar minha banda de Machadian Metal.
Não se pode mais ser igual ao que está in. Há algum tempo, décadas diria eu, o lance é tentar ser a eterna novidade, preencher vácuos deixados nos espaços onde só cabem os cools. Então, a ordem é inventar. Até onde isso pode chegar? Não tenho a menor idéia. Talvez até teria alguma, se voltasse a ler mais sobre cultura de massa. Tô meio chateado com meu bróder Adorno. Soou meio elitista o que ele me disse em uns textos por aí, que só agora tive a oportunidade de ler. Ele dá a deixa: bom, só os clássicos da humanidade. Porra, então se eu montar uma banda de Machadian Metal, será “só o creme” da cultura, hein?
Inventar na cozinha ouvindo música é fácil, não tenho que submeter-me a julgamentos, se eu não quiser. Foi em uma sessão “Frankenstein” de cozinha que me ocorreu inventar novos gêneros de música.
Não como salmão todo dia. Logo, quando tenho um bom exemplar em mãos, costumo tomar cuidado no que faço. Tive coragem de inventar com uma boa peça semana passada. Marinei duas lindas e firmes postas, uns 300 gramas cada, coloridas artificialmente, em vinho verde, limão, um tanto de azeite, cebola, noz moscada, alho picado fresco, pimenta verde e dedo-de-moça e tempero caseiro com sal. (sim, se você quiser comer salmão cor de salmão original, viaje até o Alasca).
As pessoas do rock estão inventando muito ultimamente. Que tal o math rock? Pois me ocorreu criar o history rock, em defesa da minha causa. Letras somente com tese, antítese e síntese, citando as fontes imateriais e debatendo o objeto de análise. Assim, a gente mescla todas as escolas de history rock, sem preconceito. Vai ter banda de history rock abordando a pequena aldeia de artesãs cegas e manetas do Mezzo Mediterrâneo em fins do século X, e outras, compostas por barbudos ostentando Ernesto na camiseta, explicando como a burguesia revolucionou o mundo e oprimiu o operário. Lindo. E não só temáticas novas: que tal se as bandas só usassem cravos, violoncelos setecentistas, harpas minóicas e afins, tudo amplificado e com pedaleiras? Composições só se forem nas escalas pré-gregorianas, nada de dó, ré, mi, fá, sol, lá e si. Rensga.
Eu viajo mesmo quando estou cozinhando. É minha terapia, além da música. Selei o salmão numa frigideira com borda alta, em azeite bom. Rápido, nem cinco minutos. Já te disse, leitor, que gosto de suscitar a inveja nos vizinhos. Pois agora, ao levar o salmão pro fogo, subiu um perfume único do meu fogão. A carne é delicada, ao virar é necessário cuidado para não termos farofa de salmão, ao invés de lindas postas de um sedutor rosáceo. Recolha o bicho e peça para ele esperar um pouco de fora da festa.
Já imaginei por mais de uma vez o Brazilian Folk Metal, assim mesmo em inglês, para a contradição ficar patente. Dizem as línguas especializadas que o pirarucu é o salmão do Brasil, e já o vi figurar em algumas lendas do nosso folclore. Tascaria sem dó um disco Pirarucu’s Tales. Seria interessante narrar a epopéia da Stupid Little Horse without a head. E o que seria do disco sem Saci’s tricks ?!? No encarte, um prólogo sobre Monteiro Lobato. Coisa chique. Uma versão atualizada d’O Guarani, com duas baterias e cinco guitarristas, cada um com um solo de 7 minutos, lá no Teatro Municipal, em Sampa. Iracemas mil fazendo um balé moderno, post-punk-core.
Aquela frigideira com o azeite restante da passagem do salmão receberá tomates sem pele nem sementes bem maduros (dica: prefira os mais doces), cogumelos (usei os de conserva, fungi pleurotos, tipo shiitake, mas penso que cogumelos frescos dão mais sabor), e o resto da marinada. Acrescentei mais pimenta verde e um cadinho de noz. Refogar essa garotada até amolecer o tomate, o que não é demorado. E como era dia de fazer diferente, lasquei uma xícara servida de vinho verde no refogado. Ela caiu dando sopapos em todos os outros desavisados de dentro da panela. O lance é você dar tempo para o álcool evaporar, e não deixar secar. Tem que ficar suculento. Diminua a bravura da chama, deixe o molho apurar, e quando convier o ponto, artesanalmente coloque nosso rapazinho cor-de-rosa de volta, para ele experimentar do molho. Deixe eles ali, peixe e molho, se conhecendo, interagindo.
Trilha sonora pra esportes é algo já bem sacado. O que seria do skate sem som, não é verdade? Daí me ocorreu dar à luz o squash-punk. Trilha sonora irada pras manobras mais radicais deste esporte hiper hype. Como ninguém nunca pensou nisso? Grinders que nada, o lance é o squash-punk. Ou quem sabe o Bocha-metal. Sempre em italiano, podendo variar para o italiano novelo-Global, aquele com um vocábulo do Lácio por sentença, e o resto num português com sotaque de macarronada que dá uma vergonha alheia grande. Rolaria como pano de fundo nos emocionantes pegas ali no Bexiga, no Brás ou na Barra Funda, em São Paulo. Ou de repente, aqui em Nova Veneza.
Minha esposa ria, isso é bom. As mulheres gostam de rir com os homens, e não deles. Isso costuma abrir portas. Ela preparou algumas batatas cozidas em sal apenas, que ficaram bem firmes, refogadas em cebola, alho, pimenta do reino, tudo no azeite e um leve toque de orégano. Eu gostei demais.
Nosso salmão então tinha uma boa companhia. As batatas equilibraram o peixe, que ficou um pouco ácido, além da conta. Meus tomates não eram assim, uma Brastemp. A combinação dos ingredientes produziu algo legal, que para nós foi bom. Penso que para um chef profissional, o que fizemos se assemelha muito com Machadian Metal, Brazilian Folk Metal ou History rock.
Os vinhos verdes portugueses são excelentes para um dia de cardápio leve, como foi esse. São levemente gaseificados – o que comprei passou pelo processo artificialmente. Brancos e jovens, tem um perfume delicioso, frutado. O que tomamos vem de cortes de alvarinho e trajadura, sub-região de Monção e Melgaço. E o consegui por um excelente preço, algo menos do que 40 reais.
Inventar é sempre legal. Vamos ver até onde a criatividade leva o rock, nesta nova década que se inicia em 2011. Alguns caminhos já foram abertos, e tenho receio da maioria deles. Pra você ver, em pleno século XXI, numa noite de domingo em final de agosto, eu ainda dou ouvidos à obra de Ozzy Osbourne. Inventamos muito na cozinha, criamos uma receita com salmão, compramos um vinho português meio no escuro e acertamos, mas na música, ainda somos conservadores, caretas. Minha esposa e eu temos no velho Ozzy paixão comum. O novo disco Scream, só trás o mais do mesmo, e mesmo assim, é excelente.
Ah, sim! Qualquer interesse em montar projetos musicais com os novos estilos apresentados aqui, me contatem. Entre o Ímpeto, Sangue Seco e o Tirei Zero, deve haver uma brecha por aí.
Não se pode mais ser igual ao que está in. Há algum tempo, décadas diria eu, o lance é tentar ser a eterna novidade, preencher vácuos deixados nos espaços onde só cabem os cools. Então, a ordem é inventar. Até onde isso pode chegar? Não tenho a menor idéia. Talvez até teria alguma, se voltasse a ler mais sobre cultura de massa. Tô meio chateado com meu bróder Adorno. Soou meio elitista o que ele me disse em uns textos por aí, que só agora tive a oportunidade de ler. Ele dá a deixa: bom, só os clássicos da humanidade. Porra, então se eu montar uma banda de Machadian Metal, será “só o creme” da cultura, hein?
Inventar na cozinha ouvindo música é fácil, não tenho que submeter-me a julgamentos, se eu não quiser. Foi em uma sessão “Frankenstein” de cozinha que me ocorreu inventar novos gêneros de música.
Não como salmão todo dia. Logo, quando tenho um bom exemplar em mãos, costumo tomar cuidado no que faço. Tive coragem de inventar com uma boa peça semana passada. Marinei duas lindas e firmes postas, uns 300 gramas cada, coloridas artificialmente, em vinho verde, limão, um tanto de azeite, cebola, noz moscada, alho picado fresco, pimenta verde e dedo-de-moça e tempero caseiro com sal. (sim, se você quiser comer salmão cor de salmão original, viaje até o Alasca).
As pessoas do rock estão inventando muito ultimamente. Que tal o math rock? Pois me ocorreu criar o history rock, em defesa da minha causa. Letras somente com tese, antítese e síntese, citando as fontes imateriais e debatendo o objeto de análise. Assim, a gente mescla todas as escolas de history rock, sem preconceito. Vai ter banda de history rock abordando a pequena aldeia de artesãs cegas e manetas do Mezzo Mediterrâneo em fins do século X, e outras, compostas por barbudos ostentando Ernesto na camiseta, explicando como a burguesia revolucionou o mundo e oprimiu o operário. Lindo. E não só temáticas novas: que tal se as bandas só usassem cravos, violoncelos setecentistas, harpas minóicas e afins, tudo amplificado e com pedaleiras? Composições só se forem nas escalas pré-gregorianas, nada de dó, ré, mi, fá, sol, lá e si. Rensga.
Eu viajo mesmo quando estou cozinhando. É minha terapia, além da música. Selei o salmão numa frigideira com borda alta, em azeite bom. Rápido, nem cinco minutos. Já te disse, leitor, que gosto de suscitar a inveja nos vizinhos. Pois agora, ao levar o salmão pro fogo, subiu um perfume único do meu fogão. A carne é delicada, ao virar é necessário cuidado para não termos farofa de salmão, ao invés de lindas postas de um sedutor rosáceo. Recolha o bicho e peça para ele esperar um pouco de fora da festa.
Já imaginei por mais de uma vez o Brazilian Folk Metal, assim mesmo em inglês, para a contradição ficar patente. Dizem as línguas especializadas que o pirarucu é o salmão do Brasil, e já o vi figurar em algumas lendas do nosso folclore. Tascaria sem dó um disco Pirarucu’s Tales. Seria interessante narrar a epopéia da Stupid Little Horse without a head. E o que seria do disco sem Saci’s tricks ?!? No encarte, um prólogo sobre Monteiro Lobato. Coisa chique. Uma versão atualizada d’O Guarani, com duas baterias e cinco guitarristas, cada um com um solo de 7 minutos, lá no Teatro Municipal, em Sampa. Iracemas mil fazendo um balé moderno, post-punk-core.
Aquela frigideira com o azeite restante da passagem do salmão receberá tomates sem pele nem sementes bem maduros (dica: prefira os mais doces), cogumelos (usei os de conserva, fungi pleurotos, tipo shiitake, mas penso que cogumelos frescos dão mais sabor), e o resto da marinada. Acrescentei mais pimenta verde e um cadinho de noz. Refogar essa garotada até amolecer o tomate, o que não é demorado. E como era dia de fazer diferente, lasquei uma xícara servida de vinho verde no refogado. Ela caiu dando sopapos em todos os outros desavisados de dentro da panela. O lance é você dar tempo para o álcool evaporar, e não deixar secar. Tem que ficar suculento. Diminua a bravura da chama, deixe o molho apurar, e quando convier o ponto, artesanalmente coloque nosso rapazinho cor-de-rosa de volta, para ele experimentar do molho. Deixe eles ali, peixe e molho, se conhecendo, interagindo.
Trilha sonora pra esportes é algo já bem sacado. O que seria do skate sem som, não é verdade? Daí me ocorreu dar à luz o squash-punk. Trilha sonora irada pras manobras mais radicais deste esporte hiper hype. Como ninguém nunca pensou nisso? Grinders que nada, o lance é o squash-punk. Ou quem sabe o Bocha-metal. Sempre em italiano, podendo variar para o italiano novelo-Global, aquele com um vocábulo do Lácio por sentença, e o resto num português com sotaque de macarronada que dá uma vergonha alheia grande. Rolaria como pano de fundo nos emocionantes pegas ali no Bexiga, no Brás ou na Barra Funda, em São Paulo. Ou de repente, aqui em Nova Veneza.
Minha esposa ria, isso é bom. As mulheres gostam de rir com os homens, e não deles. Isso costuma abrir portas. Ela preparou algumas batatas cozidas em sal apenas, que ficaram bem firmes, refogadas em cebola, alho, pimenta do reino, tudo no azeite e um leve toque de orégano. Eu gostei demais.
Nosso salmão então tinha uma boa companhia. As batatas equilibraram o peixe, que ficou um pouco ácido, além da conta. Meus tomates não eram assim, uma Brastemp. A combinação dos ingredientes produziu algo legal, que para nós foi bom. Penso que para um chef profissional, o que fizemos se assemelha muito com Machadian Metal, Brazilian Folk Metal ou History rock.
Os vinhos verdes portugueses são excelentes para um dia de cardápio leve, como foi esse. São levemente gaseificados – o que comprei passou pelo processo artificialmente. Brancos e jovens, tem um perfume delicioso, frutado. O que tomamos vem de cortes de alvarinho e trajadura, sub-região de Monção e Melgaço. E o consegui por um excelente preço, algo menos do que 40 reais.
Inventar é sempre legal. Vamos ver até onde a criatividade leva o rock, nesta nova década que se inicia em 2011. Alguns caminhos já foram abertos, e tenho receio da maioria deles. Pra você ver, em pleno século XXI, numa noite de domingo em final de agosto, eu ainda dou ouvidos à obra de Ozzy Osbourne. Inventamos muito na cozinha, criamos uma receita com salmão, compramos um vinho português meio no escuro e acertamos, mas na música, ainda somos conservadores, caretas. Minha esposa e eu temos no velho Ozzy paixão comum. O novo disco Scream, só trás o mais do mesmo, e mesmo assim, é excelente.
Ah, sim! Qualquer interesse em montar projetos musicais com os novos estilos apresentados aqui, me contatem. Entre o Ímpeto, Sangue Seco e o Tirei Zero, deve haver uma brecha por aí.
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