26 de janeiro de 2009

E se não fóssemos do "clube"? Rolê no Capim.

Veja mais fotos do evento em www.flickr.com/photos/andrelopeserl .
.
.
.



HC Attack, no Capim Pub, 24/01/09. Um rolê punk como há muito tempo eu não via. Um esquema massa, muitos amigos e conhecidos, barulho de primeira qualidade (por mais contraditório que isso possa soar), cerva gelada e casa lotada. Perfeito. Maravilhoso, para quem tem referências neste universo da cena.
O Capim Pub é do tipo de lugar que já é lendário. Será papo de velhos saudosistas daqui a algum tempo. É tido como a casa verdadeiramente underground da cidade. Tem uma história legal, de abrir as portas pra bandas iniciantes e produtores que não tem tanta grana ou patrocínio pra gastar. Desperta apaixonados debates na cena, sobre o que é ou não é ser alternativo. É visto como o reino da tosqueira, nas duas acepções mais comuns do termo aqui na cena goianiense. Referência no universo punk/hardcore e metal. Por tudo isso, eu me sinto em casa naquele lugar. Mas, será que pra quem não é “da galera”, não é iniciado, o Capim Pub é uma atração que vale a pena? Isso me martelou na cabeça mesmo antes de sair de casa.
Rolê no Capim, pra equipe do Rango Rock, começa no hipermercado bem próximo dali. Sabemos da oferta de cervejas do pub, freqüentamos o espaço há muito tempo. Então, alguns goles de cerva boa e barata antes de chegar ao evento. Evoco uma expressão que fez relativo sucesso em nosso texto passado, agora toda em maiúsculas, pois vi que tenho companheiros na causa: GOIÂNIA-QUE-NÃO-CUMPRE-A-PORRA-DO-HORÁRIO-ROCK-CITY. Cara, isso é foda. Grande parte do problema no HC Attack (e qualquer outro evento na casa) esteve no próprio público: às 14 horas, o Capim estava jogado às moscas. Não havia ninguém lá. Voltamos pra casa, literalmente. Moramos próximos dali (2 ou 3 quilômetros).
De volta às 3 e meia, mesma cena. Desconfiamos sobre um cancelamento do evento, mas não. Era atraso mesmo. Voltamos para o hipermercado, mais algumas “verdinhas” geladas, para retornarmos às 4 e alguma coisa. Surpresos? Jamais. Tínhamos exata noção de que ia ser assim. Por isso, estávamos relaxados. Na área descoberta, nos fundos do Capim, um papo massa com gente massa (Pedro, seu nerd! he, he, he...). Isso faz a diferença por lá. Som, cerveja, amigos, relax.
Os shows começaram próximo das 18h. A rapaziada do Sevandija, projeto dos caras do Ressonância Mórfica, arregaçou com grindcore potente, e um cover inusitado de Titãs. Esses moços destilam agressividade musical, numa performance bombástica. Não há como não lembrar da bíblia do estilo; Napalm Death no início da insanidade. Bom projeto paralelo, moçada. O d-beat europeu do Death From Above me fez lembrar da minha primeira fitinha K-7 do Discharge, “Hear nothing (...)”. Virulento. Soa como clássico. Pôs a galera pra bailar. Quando a experiência e a competência do ARD subiu ao palquinho apertado, o calor já dominava o ambiente, deixando a galera mais agitada ainda. O ARD mostrou um pouco da sua história e justificou porque pode ser chamado de lenda do hardcore brasiliense. Show solto, descontraído, como a maioria que rola no Capim. Com toda a certeza, a temperatura interna estava acima dos 30 graus. Eu pensava nos suecos do Civil Olydnad: deviam estar passando maus bocados aqui nos trópicos. Chuva, umidade e calor, muito calor.
Um pouco tímidos no palco, mesmo tocando. Mas o som era coisa fina de se ouvir: um punk rock rápido, sem virtuosismos desnecessários, direto. O bando de malucos escandinavos só reforçou a “verdade” de que o lugar lá é um celeiro de rock massa. O “obrigado” com sotaque, após cada som, era uma forma de expressar o que se via no rosto dos caras: eles piraram pra galera, que fez do Capim o portal do inferno! Pogo insano no pit, covers mais inusitados ainda: Galinha Preta e RDP. E mais uma vez o Rango Rock foi prejudicado pelo atraso no início de um evento: tínhamos compromisso inadiável, e saímos antes da apresentação do Atomic Winter, que se iniciou bem depois das 8 da noite. Pena, de verdade. O que vimos nos deixa na obrigação de parabenizar Natal e Segundo: puta escalação de responsa. Nenhuma banda verde.
Se valeu a pena? Não via algo assim há muitos anos, já disse. A cerva lá é cara, mas estava gelada. Sugiro ao Afonsinho que tenha mais Brahma no estoque da próxima vez, e não me obrigue a tomar Bavária. Não há mesas, cadeiras, conforto... e quem se importa? O fuso horário de 4 horas de atraso não foi problema insuperável, eu já sabia dele. Não há o que comer, embora um misto quente esteja anunciado numa empoeirada tabela de preços. Aliás, quem é “de casa” improvisou um rango ali antes do evento. Não me aprofundarei pra não falar daquilo que não fui chamado à comentar, he he he...não há banheiro decente, e eu poderia continuar a lista do “não há” com muitos outros caracteres. Mas eu prefiro a lista do “Há”. Há atmosfera de amizade, sinceridade, verdade. Há música boa. Há relax, há menos pose, há descompromisso com inúmeras outras relações que perpassam por profissionalismo da cena. Proposital mesmo. É a velha espontaneidade adolescente do hardcore. Há gente que busca isso. O “clube” é reduzido, mas não é fechado, e a prova de admissão pode ser muito bem um evento no Capim Pub.
Quem não é “iniciado” tem que ter em mente o que vai “comprar” quando topa ir ao Capim. Tentei me colocar na pele de alguém que não fosse do “clube”, e imaginei que eu iria embora às 4 da tarde, após esperar mais de duas horas pelo evento. Ou quem sabe ao tomar ciência das marcas de cerveja oferecidas. Até mesmo ao ver o banheiro masculino. Depende. E vale a pena, pro moleque que nunca pisou por lá e nunca esteve na “cena”? Olha, a julgar pelo que ouvi de alguns alunos meus que estavam lá, sim. Parece que foram contaminados pelo vírus da tosqueirice. Penso que entender o que se passa em um evento deste não é da boa vontade de todos, mas se isso ocorre, o hardcore se fortalece naquilo que ele tem de mais verdadeiro.
O Capim Pub é a extensão do quintal de casa (ou da sacada do apê, no meu caso). Entra, pega emprestada uma bermuda, põe a havaiana azul com branco e relaxa. É positivo isso? O Rango Rock acha que sim. Mesmo bebendo a maldita Bavária. Mesmo esperando quatro horas pelo evento, mesmo de pé o tempo todo. E só vai concordar quem tem o vírus do hardcore correndo nas veias. Aqueles que não, vão continuar achando que não vale a pena, que é porco, sujo. Pelo que vi sábado, estes não fizeram, não fazem e nunca farão falta alguma.

22 de janeiro de 2009

Vontade de gritar! 10 anos de Ímpeto.

http://rapidshare.de/files/43072402/_mpeto_-_Can__es_para_novelas_globais.rar.html

Cara, lá se vão 10 anos. Permitir-me-ei usar alguns lugares-comuns aqui: como foi rápido, parece que se passaram 10 meses de Ímpeto. Não, não pretendo resenhar minha própria banda, não sou tão estúpido. Mas deixa eu dizer pra vocês algumas coisas sobre o Ímpeto, que irão soar mais como memórias, relatos de algo que fiz e faço e que julgo legal.
Uma brincadeira de 4 amigos de ETFG, que começou com o bizarro nome de “Screaming in Silence”, em 1997, e que duraria 3 ou 4 ensaios. Depois, como Ímpeto, no início de 1999, o primeiro show (se é que se pode chamar assim) com menos de 10 sons, incluindo alguns covers, no Cantoria, que recebia o 1º Domingão da Brodagem. Isso mesmo, cara-de-pau imensa, em madeira de lei, da nossa parte. Bacuras e Didi gritando, Jander no baixo, Guga Valente baterista e André Erl (ainda sem o Alemão) na guitarra.
Tento não me render ao saudosismo: a experiência no Cantoria ainda mexe muito comigo. Participei diretamente da organização dos “Domingões”, na Liga Hardcore de Goiânia. Tempos de extremismos bobos, típicos da adolescência. Enfim, lembrar de tudo aquilo me emociona de verdade.
Desse extremismo também vinha a proposta estética musical do Ímpeto: antimúsica (acertei a nova grafia?), subverter a estrutura da música. Assim eram feitos os sons.
Muitos shows aqui, também no DF, algumas cidades do interior. Pouca divulgação, pouca importância em estabelecer padrões para o som, e o compromisso apenas com o bem-estar em se fazer música barulhenta. Tosco por opção, por ideal, he, he, he...
Talvez por nascer como um projeto alternativo de seus integrantes (Bacural, Guga e eu tocávamos em outras bandas), o Ímpeto nunca tenha sido a real prioridade, dentro do rock, para seus membros. Isso é um palpite, não é uma verdade. Mesmo em fases onde o som fluía numa facilidade espantosa.
Quando Júlio WCM entrou para as baquetas do Ímpeto, a banda deu um salto de qualidade visível. Compúnhamos músicas novas em todos os ensaios. O grande problema é que estes aconteciam (e acontecem) a cada seis meses. Acredite. E muitos sons legais eram esquecidos. Tocamos inúmeras vezes sem ensaios. Sim, este folclore é verdadeiro. Não é lenda não. Mas o entrosamento entre nós é tão grande, que tocar os sons antigos, de 10 anos atrás, é quase automático.
Eu costumo chamar de “fases” alguns momentos distintos da banda. Eu já estive fora do Ímpeto por mais ou menos um ano. Cheguei a pogar em show do Ímpeto, sem estar na formação. Foi quando Guilherme C(h)oice esteve na guitarra, meu posto na formação original. Dedicava-me exclusivamente ao Kundaline, neste ínterim.
Daniela Canhête, ex-Èlet, esteve conosco. Vi poucas pessoas, em 16 anos de rock, com sua atitude. É alguém que tenho no meu panteão goiano do rock. Ela sabe disso.
Lúcio Didi é nosso Chuck Norris. Não houve, não há e não haverá baterista mais pedreiro que ele. Furando peles constantemente, em ensaios e shows, devido à força com que batia. O cara era 0% de gordura, e levantava caminhão de brita com dois dedos. Uma das pessoas mais sinceras e honestas que eu conheci na vida inteira, nestes 29 anos.
Janderjans Monteiro, o Jander Joaninhas, o cara da flanela. O primeiro baixista do Ímpeto. Cidadão tocantinense, espírito de baiano, contador de “causos”. Passou muito tempo sendo baixista sem o ser! Ha, ha, ha, ha!!! Companheiro das 1ªs brejas, após nos tornarmos “caídos”, ex-straight edgers. Putz...
Nunca ri tanto enquanto Alexandre Senhori WCM esteve no Ímpeto. O cara é uma figura! Espontâneo, nos matava de rir nos ensaios. Virtuoso, inventava suas próprias bases, que nada tinham a ver com os sons. Descobrimos isso e mais uma vez, demos pala. Nino, do Castelo Rá-Tim-Bum.
Vegetarianismo. Eis um mote permanente nos primeiros anos. Éramos todos vegetarianos. Alguns inclusive se rotularam SxE. Fiz isso num curto espaço de tempo, mas fiz. Não usávamos álcool, nem marijuana. Garotos bem-comportados. Negávamos uma boa picanha maturada, passávamos longe de um cupim gotejando colesterol. Histórias mil de sofrimento por estes ideais, que faziam todo sentido, anos atrás, pra nós da banda. Quantos "X-Quaresma" detonamos? Quantos litros de refrigerecos diversos (Coca-Cola era pra vendidos alienados)? Hoje, apenas Bacural e Júlio continuam se alimentando saudavelmente. Devem ter muito menos colesterol que eu, são bem mais magros, mais ágeis, não ficam bêbados nunca... enfim, COITADOS! Não sabem o que estão perdendo, he, he, he, he... Estou cooptando Júlio pro meu time. Já tenho excelentes resultados.
A primeira demo foi em K-7, tosca. Um ou outro material em coletâneas pelo Brasil afora, e só.
O novo material mescla sons antigos e novos. Vai ser lançada de forma organizada. Pretendemos dar um gás novo ao Ímpeto, tocando mais, ensaiando e compondo mais.
O Ímpeto é assim, existe porque a necessidade de gritar às vezes é muito urgente. Existe porque a amizade ali é forte demais. Existe porque já virou lenda, folclore caricato da atitude moleque hardcore. Existe porque é sincero, ninguém ali faz pose. Existe porque é necessário na vida de seus integrantes atuais: Bacuras, Júlio, Guga e eu. Da minha parte, hardcore até onde der!

19 de janeiro de 2009

Saiu a primeira resenha sobre o RangoRock!

Já no número #2 eu quebrarei uma regra interna do blog: lançar texto fora das segundas-feiras. É preciso.

Depois de pagar muito bem o Eduardo Inimigo do Rei, ele escreveu n'O Grito do Inimigo algo sobre o blog. Você pode ler aqui: http://ogritodoinimigo.com/index.php/2009/01/rangorock-saboreie/

Aproveite para ler os hilariantes flashes policiais que Rodolfo Morais está colocando por lá. Tive a impressão de estar com o Notícias Populares nas mãos, na minha infância paulistana.

É nóis, he, he, he...

Resistência roqueira no Esconderijo: desencane para aproveitar!

Saudade, palavra triste... aô chão goiano! Quisera eu gostar de sertanejão (ou como queira chamar). Lugares diversos não faltam pra se ouvir “moda” e beber em um plúmbeo domingo. Do boteco sujo da periferia ao mais requintado bar em “área nobre”. Eu tenho saudade sim, dos domingos do Cantoria, ou dos mais recentes “Capim Rock”. Mas como este saudosismo é bobagem, me dispus a conferir algumas alternativas que vem aparecendo no rock daqui. Despi-me da preguiça em observar outras tendências, que não o hardcore e o punk, em suas diversas subclassificações. Lá vai a “equipe” Rango Rock pro rolê hard rock. Domingo com o Zeca Camargo, nem pensar.
“Goiânia Rock-que-não-cumpre-a-porra-do-horário-City”. O evento, marcado para as 18, começou às 20:40h. For Those About To Rock, no Esconderijo Bar, com mais de um ano aberto, e somente agora visitado pelos membros desta equipe. Cena inusitada: músicos e técnicos de som à espera do dono do estabelecimento, que ainda não estava aberto no horário marcado para os shows começarem. Recuso-me a comentar. Fred Mika foi certeiro: não interessa em que Igreja roqueira você confessa, algum descaso com o público por parte dos donos das casas sempre existe. Mais tarde a gente volta aqui.
Bar sem frescura em “área nobre” (expressãozinha filha da puta essa, não?). Ponto positivo. Entramos 7 e alguma coisa, o serviço começou às 20:10h. Fazendo jus à expressão “copo sujo”, nossa equipe começou a trabalhar numa Antarctica Original dentro de um copo sabor cupim bovino. O pedido ao garçom pra lavar o copo foi mal interpretado, sendo apenas trocado por outro, sabor picanha. Vá lá, é só não cheirar o danado. Uma cerveja “quase pedrando” não é vantagem. Aquele semi-sorvete não tem sabor, não dá pra sacar se é falsa. Aliás, é um truque que muito bobo cai. A segunda garrafa pedi apenas gelada, e não congelando. Original originalíssima, gostosa como deve ser. Preço de sempre, nada exagerado, na casa dos 4 reais.
A banda Devon subiu ao palco desfalcada, num duo de vocal/violão e bateria. Logo de início, excelente set list. Clássicos de Iron Maiden e Black Sabbath na fase Dio, entre outras coisas. A “equipe” vibrou, atingiu em cheio nossos gostos. Poucas músicas próprias, identifiquei duas. Não vou analisar covardemente os caras, que tiveram a decência de honrar o compromisso sem 60% da banda. A Jackie’s Knife foi a surpresa da noite. Nunca tinha ouvido nada deles ao vivo. Sabia apenas dos covers de Guns n’ Roses, uns muito bons, outros nem tanto. Rapaziada da banda, façam um favor a vocês: invistam em composições próprias, vocês são bons. O vocal é seguro, afinado. Escorrega de vez em quando, poucas notas atravessadas.
O que me irrita é ver amigo da onça gritando insistentemente aos meninos: “Toca Guns!”. Vá introduzir um falo no orifício anal, porra! Bons músicos como eles devem tocar composições próprias, oras. O Mötley Crüe foi massa, mas insisto: toquem mais coisas de vocês.
Acompanhando o som, uma porção de batata frita. Eles servem aquelas do tipo congeladas, não são cortadas na hora. Gostosas e secas. Com a Original, então... Diga-se de passagem, bom cardápio para um bar. Clássicos do gênero e boa variedade de cervejas, pra todos os bolsos. Nem tanta para uísque e vinhos. Só “os de sempre”. Não há cerva importada no cardápio. Enfim, é como dissemos: bar sem frescuras. Preços honestos.
Quando o Sunroad subiu ao palco, a janta dominical chegou: porção de frango frito à passarinho, bem acebolado, sabor batata frita. Me esqueci de pedir ao garçom para não servir os dispensáveis alfaces murchos que classicamente acompanham esta “comidinha de boteco”. O sabor da batata pedida anteriormente, marcando o frango frito, me diz que a cozinha é bem econômica, para ser otimista.
Preciso comentar sobre a competência do Sunroad? Banda profissional, com muita estrada e vários títulos “cheios” no mercado. Comprei a coletânea da banda, e ouço-a enquanto escrevo. Rock até o talo, moço! Pra quem gosta do gênero, como eu, prato cheio. Destaco o som Midwest Sand. Ao vivo, ficou matador.
A última Original veio matematicamente gelada. Excelente. Tomamos a obra de arte durante o show do Sunroad. Maldita Lei Seca, maldita vida de operário: não assistimos à apresentação da Seventy Now. Pena mesmo. Passava muito das 23h quando saímos do bar.
Gente diferente, público bom, menos do que esperávamos. Atendimento rápido, com poucos pecados. Banheiro decente. Bar com cara de rock, “decorado” pra isso. E o que me deixa puto é ver um bar “sertanejo” lotadásso, “bombando”, bem próximo dali. Pode acontecer que um dia o Esconderijo perceba que abrir pro “público do chapéu” dá mais grana do que sustentar o sonho de um bar alternativo. Será só mais um lugar legal que o público roqueiro não soube valorizar e que se rendeu. E não teremos direito de reclamar. Os donos lá devem ter muita conta pra pagar. Observamos alguns probleminhas no serviço da casa, mas não recomendar que você vá até lá seria de uma burrice sem tamanho da nossa parte. A “noitada” hard rock valeu a pena. Superamos o fato de termos sido desrespeitados no horário e no pedido do copo limpo. Não ligamos pro frango sabor batata frita. Acomodados? NUNCA! Apenas pensando que a relação custo-benefício pode ser legal, se você desencanar. Assim é o Esconderijo. Lugar pro rock, que tomara não se renda fácil ao sertanejo universitário. Pra esse público, Goiânia ferve de domingo à domingo. Deixe o rock sobreviver, porra!

Motherfish + uma garrafa de vinho.



Um sábado passado por aí foi dia de rock na residência da família Alemão. Celebrar é preciso, sempre, mesmo sem motivos aparentes, vai por mim. Separei uns CD’s que há tempos não ouvia: Sonic Youth, Radiohead, Fugazi. É necessário atmosfera, meus jovens. Os casados devem me entender melhor.
Preparei uma janta massa: lombo assado com pimenta verde, talharim ao molho de champignon. Nada soberbo, nada esnobe. Mas no capricho e bem feitinho.
Para acompanhar etilicamente, um achado: pra quem curte vinho, já deve ter visto em redes de hipermercados alguns títulos legais. E preços acessíveis. É óbvio que nada de extraordinário. Vinhos legais pro dia-a-dia. A vida ainda não me permite gastar três dígitos em uma garrafa. Em um desses mercados, encontrei uma garrafa de legítimo Dão, tinto que só, porrada nos sentidos. Barato, o que me deixou muito feliz. E neste dia de rock a dois, aqui vai ele.
Entre uma troca de discos e outra, um outro achado supimpa de 2008: excelente relação custo-benefício, nacional, ou melhor ainda, regional. O selo de procedência não é dos meus prediletos, poucos títulos me empolgam por lá. Mas este em especial me surpreendeu. E isso não me sai da memória sensorial: que disco massa esse do Motherfish. Ele foi o disco que tocou na hora da diversão: carne + vinho + massa + mulher bonita + boa música = puta sábado. Uma simples e eficiente equação.
Ao abrir o disco, não se deixe enganar pelo primeiro gole. As músicas iniciais remetem a um monte de coisa boa, mas de modo peculiar sempre: Cure, Radiohead, pop britânico. Parece que vai ficar somente nisso. Mas não, deixe seu paladar musical trabalhar um pouco. Não se apresse. Vá ouvindo detalhes. Até um Ramones é evocado nesse exercício. A atmosfera criada vai se tornando cada vez mais própria, mas intimista. Até que o grandioso chega: Kerouac Days, som pra te deixar melancólico. Docemente melancólico. Regado à vinho português então, virge...
E no final, relaxe e deguste os últimos goles do melhor que a terra goiana oferece. O Motherfish é despretensioso. É competente. Dosa bem a boa ironia, com uma melancolia que não chega a ser amargosa, nem forçada. E taí no seu quintal, mermão. Sem regionalismo pedante.
Outros sábados acontecerão degustando boa música feita na “quinta” República. Fica aqui uma impressão pessoal e uma recomendação. Longe de ser uma crítica, a intenção foi dividir coisa boa com você. Aproveite.
Aprecie sem moderação:

12 de janeiro de 2009

Entre “ser e não ser”...

“Não tomo café-da-manhã em casa, faço-o no trabalho, lá pelas 10 horas. Em geral, pão francês, frito ou com toneladas de margarina, se esta for boa. E mais ou menos meio litro de café. Não é força de expressão. Meu almoço não tem hora certa, A cada dia da semana, pela agenda de trabalho, como em um horário diferente. Às vezes, meio-dia, às vezes duas, três da tarde. Depende. Arroz, feijão, carne. Quando almoço fora, maioria das refeições, carne gorda de churrasco. E mais café. Depois de muita Coca-Cola. Mato uma de 600ml numa facilidade espantosa. Raramente como algo à tarde. A janta é sempre farta: mais carne, mais Coca-Cola. Em finais de semana, costumo comer bem... Massa, um doce, cervejas (nunca sei a quantidade certa), e mais carne. Quando tem rock, abro mão do jantar tradicional: como uma bobagem qualquer antes de sair (resto de carne, pão com ovo, algo do gênero) pra depois do auê, comer um sanduba, de preferência “podrão” da Praça Cívica. Com Coca-Cola. Ou quem sabe Habib’s da Praça Tamandaré. Geralmente 6 a 8 esfihas e muita... Coca-Cola. Deito-me, pra dormir, pouco tempo depois. Mas isso só ocorre depois de bebericar à pampa no rock. Tenho uma tolerância imensa ao álcool. Tomo uma caixa de cerveja em lata na boa, sem problemas. Não fumo nada, nem cheiro.”

Quando terminei meu relato à doutora gastro, onde fui me queixar de uma dor de estômago persistente, ela estava com o olhar perdido, com um leve toque de nojo na face pálida. Ao arrematar meu conto de horrores, disse-lhe que me medicava sozinho, sem orientação médica: cloridrato de ranitidina, ou omeprazol. Soma-se o fato de eu ser completamente sedentário. Ela suspirou e pausadamente me disse que assim eu não chegaria aos 60 como uma pessoa saudável, isso SE chegasse, e que era preciso imediatamente mudar os hábitos alimentares.

Então, estive diante de um dilema: e minha postura auto-destrutiva de roqueiro, como fica? Gordura, álcool, Coca-Cola e café são vitais para meu organismo. Se fico sem eles, bate uma tristezinha sem fim. Mas por outro lado, meu estômago é uma colônia de bactérias, e está caminhando a passos largos para uma úlcera gástrica. É o que dizem os exames, com a deselegante expressão “gastrite crônica severa”. Porra...

De repente, eu vejo todo um estilo de vida sendo ameaçado. Como freqüentar o rock sem beber? Ou como disse a doutora – “beber comedidamente”? Como almoçar no fim de semana, não sendo um legítimo viking? Estes hábitos fazem parte da minha identidade pessoal, oras...

Posso tentar, sem dúvida. Afinal, ouvi uma taxativa doutora me alertando sobre um enfarte prematuro, ou uma úlcera estomacal. Não quero nada disso. E sei que também não quero deixar o “tudão” da Praça Cívica após o Martin Cererê. Não quero beber “comedidamente” nos shows, porque assim não tem graça. Não há como ser roqueiro fodão sem chapar (é óbvio que esta é a MINHA concepção de roqueiro fodão).

Pensar que uma noitada rock envenena tanto a ponto de condenar à morte prematura me assusta. Lógico, há casos e casos. Você pode ser mais resistente que eu. Seu eletrocardiograma pode não acusar leve arritmia como o meu. O rock já fodeu meu ouvido, sou parcialmente surdo. O rock já desgraçou meu bolso, com o vício de discos, guitarras, baixos, cubos e etc. O rock já me meteu em “n” encrencas. Agora, constato que ele está ali, em meio ao complô contra meu organismo. O filho da puta está me tentando. Parar de beber? Comer saudavelmente? NUNCA! Pelo menos enquanto o rock circular nas veias. É isso que ele me diz.

Enquanto me acabo frente a esta decisão – deixar de ser eu e ser saudável, ou continuar a ser um troll e morrer logo – eu me propus a observar o que entra pela minha boca dentro do rock, aqui em Goiânia. E desdobrar isso, em múltiplos assuntos que possam surgir. Grande parte dos meus problemas estomacais eu devo ao rock! E é através dele que quero compartilhar algumas opiniões sobre o que comemos na “rock city”. Lugares, comidas, bebidas, shows e eventos ligados ao rock serão aqui comentados, não como crítica profissional, pois não tenho este gabarito, mas como forma de debater um assunto interessante. Eu vou me divertir muito...