...e havia inúmeras opções. O blog esteve em duas delas. O Férias Rock Festival e o Thelonious Monk. . Eu te conto:
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Uma galera muito louca aprontou mil e umas, numa tarde destas férias pra lá de animadas: FÉRIAS ROCK FESTIVAL !!!
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Meninas bonitas, meticulosamente recortadas dos clipes chorosos do Simple Plan e similares, molecada com cara de anime, rapaziada com penteados extravagantes, skatistas toscos, bikers sujismundos e muitos, muitos alargadores, tatoos, piercings e similares. Skate board, BMX, corrimão, parafina e saltos insanos. Iscas de sorvete gratuitas e sol escaldante da cidade que não tem inverno. Umidade relativa do ar baixa - o pequeno sangramento que tive no nariz acusou. Tudo isso no meio da rua, em pleno Jardim América – próximo ao PróBrazilian. É a gurizada off-circuit de Goiânia pondo pra foder, à seu modo. Também lembrou skate party que se vê em clipes gringos, como alguns do Pennywise - faça-se justiça. O Férias Rock Festival foi uma iniciativa de uma sorveteria e lan house situada na esquina da rua C-134 com a avenida C-104, a Fast Ship, e do Vitor Hugo, com seus acetonados cabelos amarelos. Um “evento pra quebrar a panela”, segundo comentários na comunidade orkuteira Goiânia Rock City, que infelizmente vem sendo o único ponto de informação sobre rock na cidade.
O lugar exalava cheiro de hormônio adolescente. Dentre as várias coisas que observei, sou obrigado a começar pela atitude da molecada. Dando banho de “faça-você-mesmo” em muito marmanjo chorão da cidade. Sem nenhum medalhão da “cena” por trás da organização, o público foi razoável. Eu esperava um pouco mais, pois não havia cobrança de ingresso. Nem mesmo pra andar na pista street improvisada do meio da rua. As bandas que vi tocando realmente não são rodadas nos palcos goianienses. E sobre os shows, não sei se a intenção era começar às 4 da tarde. Se era, foram pontuais. Se não, Goiânia que não cumpre a porra do horário Rock City. Será que sempre vai ser assim? Meus razoáveis anos nessa bagaça toda diz que posso me conformar. Mas reforço, não sei se o horário era mesmo às 16hs, para os shows.
Vi bandas que nunca tinha sacado antes. O-54 (“O” de Outono) iniciou as apresentações: rock básico, quadrado, sem firulas, bem ensaiado, alguns pequenos erros, com aquela timidez característica de moleques iniciantes. Numa aparelhagem legalzinha para o tipo do evento, o repertório curto incluiu Xuxa e Mamonas Assassinas. Panic Pronic veio em seguida, com um pouco mais de peso, numa linha mais metal (não me atrevo a arriscar rótulos nesse mundo de hoje...). A banda que teve maior apelo de público, pelo menos até onde estive presente, A+B, trouxe covers bem executados de Blink 182, a grande maioria, dessa última fase da banda americana – emo. E como boa parte da platéia presente se encaixava nessa onda já não tão nova, o sucesso foi patente. Depois, o Nova Conduta trouxe um som rápido, punk rock hardcore numa linha melódica, também bem ensaiado. No frigir dos ovos, boas bandas, considerando a pouca experiência, tecnicamente falando. Mas... (como eu adoraria escrever textos sem esse maldito “mas”), me digam pra quê aquela quantidade imensa, exagerada, pasteurizada, avassaladora, absurda, de covers? Por que meninos novos, talentosos, com um gás e uma atitude de fazer inveja, se rendem aos malditos covers? Por que seus amigos insistem em não valorizar o trabalho autoral? Como irrita ver esses amigos gritarem, após uma música autoral, a famosa frase: “- Toca isso! Toca aquilo!”. Vá para a puta que os pariu. Essa galera não vê que assim as boas músicas que eu ouvi, de autoria das boas bandas que estavam lá, nunca vão virar algo? Pois quem as compõe não se incentiva ao ver os seus amigos berrarem pra tocar sons de outras pessoas. Isso é simples e lógico. Tocar um ou outro cover é normal e até esperado. Meiar o show com músicas dos outros já é problema. Salvo o projeto que tocou que era sabidamente de covers. Pra estes, não há embuste. Saí de casa sabendo que eles só tocariam músicas do Blink 182. Esperei por sons do início da carreira da banda em vão. Desta fase nova, detesto tudo que eles fizeram. E não é por isso que eu não vou reconhecer a qualidade musical dos meninos do A+B. Aliás, de todas as bandas que eu vi.
Pelo atraso (?) inicial, não pude ficar pra ver as outras bandas. Uma pena, pois estava realmente curioso pra ouvir coisa nova. Saí às 6 e meia, quando a Aurora se preparava para tocar. Deixei de ver também a Reborni, que me foi bem recomendada.
De tudo o que pude perceber, os shows eram apenas UMA das atrações. Foi um evento que há tempos eu não presenciava. Uma sacada muito inteligente de quem organizou/ produziu. Teve a cara da molecada de hoje: intensa, que não espera que outros façam por eles, e ao mesmo tempo ingênua, com pose e circunstância que o mundo impõe à eles. Agressividade visual mesclada a uma postura quase infantil. Pouca gente bebendo, por exemplo. É bonito sentir essa energia deles, de verdade. Me dá uma saudade gostosa dos meus 18, 20 aninhos.
Não entendi o por quê de não haver um bar decente funcionando. Desculpe-me, Bibi. Não te chamei de indecente, he, he, he... mas bebericar Nova Schin, e só ela, mesmo num preço justo, é osso mermão. Investi no bar do outro lado do evento, onde achei Skol long neck por opressivos $2,50. Compare com eventos monstruosos, fosfóricos e afins e verás uma benção neste preço do boteco. Este pecado do evento, não pensar em estrutura de bar e banheiro (havia UM, unissex, para mais de 100 presentes) não chegou a comprometer o todo – não seria por isso que condenaria a gig.
Molecada, continuem. Não parem neste, façam mais festivais assim. Alimentem essa micro-cena rock da cidade. Isso é bom, agita, sacode, desembolora as coisas. Skate, BMX, sorvete e rock junto funcionou demais. Eu fiquei surpreendido. O saldo foi positivo, se é que eu realmente entendi direito o que se passou por lá: eu nunca me senti tão “fora d’água” num show de rock como neste sábado, he, he, he...
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Uma galera muito louca aprontou mil e umas, numa tarde destas férias pra lá de animadas: FÉRIAS ROCK FESTIVAL !!!
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Meninas bonitas, meticulosamente recortadas dos clipes chorosos do Simple Plan e similares, molecada com cara de anime, rapaziada com penteados extravagantes, skatistas toscos, bikers sujismundos e muitos, muitos alargadores, tatoos, piercings e similares. Skate board, BMX, corrimão, parafina e saltos insanos. Iscas de sorvete gratuitas e sol escaldante da cidade que não tem inverno. Umidade relativa do ar baixa - o pequeno sangramento que tive no nariz acusou. Tudo isso no meio da rua, em pleno Jardim América – próximo ao PróBrazilian. É a gurizada off-circuit de Goiânia pondo pra foder, à seu modo. Também lembrou skate party que se vê em clipes gringos, como alguns do Pennywise - faça-se justiça. O Férias Rock Festival foi uma iniciativa de uma sorveteria e lan house situada na esquina da rua C-134 com a avenida C-104, a Fast Ship, e do Vitor Hugo, com seus acetonados cabelos amarelos. Um “evento pra quebrar a panela”, segundo comentários na comunidade orkuteira Goiânia Rock City, que infelizmente vem sendo o único ponto de informação sobre rock na cidade.
O lugar exalava cheiro de hormônio adolescente. Dentre as várias coisas que observei, sou obrigado a começar pela atitude da molecada. Dando banho de “faça-você-mesmo” em muito marmanjo chorão da cidade. Sem nenhum medalhão da “cena” por trás da organização, o público foi razoável. Eu esperava um pouco mais, pois não havia cobrança de ingresso. Nem mesmo pra andar na pista street improvisada do meio da rua. As bandas que vi tocando realmente não são rodadas nos palcos goianienses. E sobre os shows, não sei se a intenção era começar às 4 da tarde. Se era, foram pontuais. Se não, Goiânia que não cumpre a porra do horário Rock City. Será que sempre vai ser assim? Meus razoáveis anos nessa bagaça toda diz que posso me conformar. Mas reforço, não sei se o horário era mesmo às 16hs, para os shows.
Vi bandas que nunca tinha sacado antes. O-54 (“O” de Outono) iniciou as apresentações: rock básico, quadrado, sem firulas, bem ensaiado, alguns pequenos erros, com aquela timidez característica de moleques iniciantes. Numa aparelhagem legalzinha para o tipo do evento, o repertório curto incluiu Xuxa e Mamonas Assassinas. Panic Pronic veio em seguida, com um pouco mais de peso, numa linha mais metal (não me atrevo a arriscar rótulos nesse mundo de hoje...). A banda que teve maior apelo de público, pelo menos até onde estive presente, A+B, trouxe covers bem executados de Blink 182, a grande maioria, dessa última fase da banda americana – emo. E como boa parte da platéia presente se encaixava nessa onda já não tão nova, o sucesso foi patente. Depois, o Nova Conduta trouxe um som rápido, punk rock hardcore numa linha melódica, também bem ensaiado. No frigir dos ovos, boas bandas, considerando a pouca experiência, tecnicamente falando. Mas... (como eu adoraria escrever textos sem esse maldito “mas”), me digam pra quê aquela quantidade imensa, exagerada, pasteurizada, avassaladora, absurda, de covers? Por que meninos novos, talentosos, com um gás e uma atitude de fazer inveja, se rendem aos malditos covers? Por que seus amigos insistem em não valorizar o trabalho autoral? Como irrita ver esses amigos gritarem, após uma música autoral, a famosa frase: “- Toca isso! Toca aquilo!”. Vá para a puta que os pariu. Essa galera não vê que assim as boas músicas que eu ouvi, de autoria das boas bandas que estavam lá, nunca vão virar algo? Pois quem as compõe não se incentiva ao ver os seus amigos berrarem pra tocar sons de outras pessoas. Isso é simples e lógico. Tocar um ou outro cover é normal e até esperado. Meiar o show com músicas dos outros já é problema. Salvo o projeto que tocou que era sabidamente de covers. Pra estes, não há embuste. Saí de casa sabendo que eles só tocariam músicas do Blink 182. Esperei por sons do início da carreira da banda em vão. Desta fase nova, detesto tudo que eles fizeram. E não é por isso que eu não vou reconhecer a qualidade musical dos meninos do A+B. Aliás, de todas as bandas que eu vi.
Pelo atraso (?) inicial, não pude ficar pra ver as outras bandas. Uma pena, pois estava realmente curioso pra ouvir coisa nova. Saí às 6 e meia, quando a Aurora se preparava para tocar. Deixei de ver também a Reborni, que me foi bem recomendada.
De tudo o que pude perceber, os shows eram apenas UMA das atrações. Foi um evento que há tempos eu não presenciava. Uma sacada muito inteligente de quem organizou/ produziu. Teve a cara da molecada de hoje: intensa, que não espera que outros façam por eles, e ao mesmo tempo ingênua, com pose e circunstância que o mundo impõe à eles. Agressividade visual mesclada a uma postura quase infantil. Pouca gente bebendo, por exemplo. É bonito sentir essa energia deles, de verdade. Me dá uma saudade gostosa dos meus 18, 20 aninhos.
Não entendi o por quê de não haver um bar decente funcionando. Desculpe-me, Bibi. Não te chamei de indecente, he, he, he... mas bebericar Nova Schin, e só ela, mesmo num preço justo, é osso mermão. Investi no bar do outro lado do evento, onde achei Skol long neck por opressivos $2,50. Compare com eventos monstruosos, fosfóricos e afins e verás uma benção neste preço do boteco. Este pecado do evento, não pensar em estrutura de bar e banheiro (havia UM, unissex, para mais de 100 presentes) não chegou a comprometer o todo – não seria por isso que condenaria a gig.
Molecada, continuem. Não parem neste, façam mais festivais assim. Alimentem essa micro-cena rock da cidade. Isso é bom, agita, sacode, desembolora as coisas. Skate, BMX, sorvete e rock junto funcionou demais. Eu fiquei surpreendido. O saldo foi positivo, se é que eu realmente entendi direito o que se passou por lá: eu nunca me senti tão “fora d’água” num show de rock como neste sábado, he, he, he...
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veja algumas fotos aqui:
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Um fiel retrato da cena hardcore punk e metal de Goiânia. Thelonious Monk, Casa das Artes.
São 15:35h. Paro a moto em frente ao prédio da Casa das Artes. Absolutamente ninguém na porta. “- Ué, será que cancelaram? Fiz uma cera danada pra chegar um pouco mais tarde...”. Portas de aço baixadas, calçada vazia, angústia. Do outro lado da Anhanguera, o Bibi buzina, contorna, e pergunta ao descer do carro: cadê a galera? Não sei mesmo, cara. Largo a moto por lá e vou até a praça próxima dali, esperar. Tem sorvete, cerveja e tudo mais por lá, ajuda a passar o tempo. No caminho, encontro dois companheiros de fé, que me inquirem esperançosos, segurando um Cantina da Serra: eaê, começou lá? Devem me conhecer dos orkutes da vida, pois nunca os vi. Digo a eles: há somente o cara do bar lá na porta, com 4 barras de gelo derretendo.
Eu ainda não aprendi. Tenho essa mania feia desde moleque. Sou estranhamente pontual. Sou uma aberração, numa cidade que não usa relógio. Não sou fanático. Tolero variações, sou adepto à elas. Aliás, já trabalho minha agenda diária levando-as em conta. O mundo não gira em torno do meu umbigo, eu sei. Chego a me perguntar: será que eu li errado no e-flyer? Júlio WCM confirma que não: realmente era 14:00h mesmo. São 16:30h. Alguns gatos pingados das bandas que vão tocar estão na porta do antigo CETE. Não sou crooner, então desencanei do relógio nesse momento, em que notei que nem ao menos o som estava montado às 17:00h. Bom, o público do evento podia reclamar. Eu te pergunto: Que público? Numa olhada rápida, havia no máximo dez almas infernais esperando o levanta-poeira. Os outros dez eram integrantes das bandas, que no fuso-horário Goiânia Rock City, deveriam estar tocando pelo menos a partir das 16h. Te lembro, caro leitor, não sou fanático, jamais cobraria aqui um show de domingo se iniciar às 14h.
Matei a tarde do domingo toda ali. Desempolguei. Cansei. Estressei. Seria esse o momento de eu levantar o meu dedo indicador e arremessar a culpa nos ombros do mundo todo, ou no mínimo de quem eu tinha no meu campo visual naquele grotesco domingo na Casa das Artes? Não. Esse é o momento que me faz pensar: que porra é essa de cena? Por que, apesar de haver gente que trabalha e tenta, as coisas não fluem? Por que não havia, às 18:30h (olha o relógio, he he he...) literalmente NENHUM novato assistindo ao início dos shows? Sou capaz de citar, nome a nome, quem estava lá. As mesmas dezenas de sempre. É um ciclo vicioso. Os produtores já sabem que não tem público no horário, então eles atrasam a parada. Quando há vários imprevistos como ontem (por volta das 17h, não havia sequer bateria montada), mais atraso. Tinha gente nova na organização: o coletivo GirlPowerUnder. Falei com a Kemy um pouco antes dos shows, e fiquei com um misto de pena e sensação de impotência. Nada podia fazer pra ajudar. Quando o público chega, vemos os mesmos vícios de sempre. O mais foda deles é a mania de pensar que show não tem custo, ou ainda que quem faz o evento nada em dinheiro. Daí, a certeza de que “eu sou especial, posso entrar sem pagar”. Leitura errada do que pode ser a cena hardcore, moçada.
Lá dentro, escadarias, Bibi e sua maldita Nova Schin. Eu não mereço, parceiro. Banquinha montada, bem freqüentada, a parte mais legal do pré-show. Trocar idéia com nerds como o Pedrinho é sempre bom. Ele é minha atual fonte de informações sobre o que é quentura nos players da vida. Rever os velhos camaradas também é massa. Ensaiei um quibe da Tia Kemy, mas minha gastrite severa mal curada desde janeiro me disse que não era uma boa idéia. Ficou pra próxima.
Um puta som, mal regulado, o que é uma pena. Vi o show do Luta sem Descanso. A guitarrista extremamente técnica estava lá. A baixista boa de serviço também. O vocal cansativo da menina front-woman idem. A baterista que não inventa demais, e por isso é boa, lá. O que não estava era o mesmo tesão de um show que eu vi dessas meninas no Martin Cererê. Se não me falha a péssima memória que tenho, foi no mesmo dia em que o Biggs tocou. Saí do pit com o nome delas na cabeça. Assisti ao show, nesta feita, maravilhado. Disse pra um bróder, na ocasião: meu, onde essas meninas estavam? Mas ontem, não foi o dia. Show burocrático. Meninas, agora que voltaram, vou esperar outro show fodástico como aquele do Martin, viu? Como eu sei que vocês conseguem, to no aguardo.
Final de show das meninas, passagem de som do Corja. Passagem de som? Sim. Com tudo montado somente às 18:30h, nenhuma banda passou som, afinou instrumentos, enfim. Não deu pra mim. Precisava ir embora. Sacanagem maior foi a rapaziada começar “Supernaut” e não terminar, durante a passagem. É a minha predileta do Volume 4. Gostaria muito de ter visto o show do Corja, há anos que não vejo. Mas a circunstância não permitiu. Sociofobia, Warnoise, Black Skull, desculpe-me.
Por mais que você, leitor, queira que eu vá apontar o dedo para eleger culpados, eu não o farei. Eu preciso sim é me adequar. Vamos parar de falar do ideal e abraçar o real. Gigs hardcore punk ou metal se tornaram rodas de biriba. Eu que não sou tão entrosado assim, já conheço até as fofocas da galera. O que me anima é ver que tem gente ainda afim de produzir. As meninas do coletivo GirlPowerUnder estão de parabéns pela iniciativa, e eu lamento demais todos os contratempos. Eu vou estar, com absoluta certeza, no próximo evento de vocês. Seja em parceria com a calejada TBONTB ou não. No próximo, eu quero me ater ao show, ao espaço, com gosto. Ontem, meu humor foi amargamente temperado pela maior espera da minha vida por um evento cultural.
Produtores de hardcore, punk, metal e afins: perguntas novas precisam ser feitas. Neste espaço, eu pretendo contribuir, provocando, debatendo, abrindo as portas. Precisamos chegar a uma síntese rápido, para guiar a práxis. Refutamos (sim, eu me incluo) e tripudiamos do discurso de profissionalização do rock na cena goianiense. Será que ele é de todo ruim? Não há nada lá que possamos aproveitar? Na história, são muitos casos em que para haver a revolução, foi necessário um recuo estratégico. E são também muitos os casos em que, através do radicalismo sectário, projetos inteiros de transformação social se perderam.
Talvez, a entrada na terceira década de existência tenha comprometido minha paciência. Pode ser. Coisa de “velho”, querer voltar pra casa no horário programado. Minha esposa operária na pressão pra ir embora, porque hoje às 5:40h ela estava de pé. Tiro a razão dela? De repente, chegou a hora de eu baixar a coleção do Thelonious Monk, comprar uma boina e um pulôver xadrez (eu já uso óculos) e apreciar charutos. Quem sabe.
São 15:35h. Paro a moto em frente ao prédio da Casa das Artes. Absolutamente ninguém na porta. “- Ué, será que cancelaram? Fiz uma cera danada pra chegar um pouco mais tarde...”. Portas de aço baixadas, calçada vazia, angústia. Do outro lado da Anhanguera, o Bibi buzina, contorna, e pergunta ao descer do carro: cadê a galera? Não sei mesmo, cara. Largo a moto por lá e vou até a praça próxima dali, esperar. Tem sorvete, cerveja e tudo mais por lá, ajuda a passar o tempo. No caminho, encontro dois companheiros de fé, que me inquirem esperançosos, segurando um Cantina da Serra: eaê, começou lá? Devem me conhecer dos orkutes da vida, pois nunca os vi. Digo a eles: há somente o cara do bar lá na porta, com 4 barras de gelo derretendo.
Eu ainda não aprendi. Tenho essa mania feia desde moleque. Sou estranhamente pontual. Sou uma aberração, numa cidade que não usa relógio. Não sou fanático. Tolero variações, sou adepto à elas. Aliás, já trabalho minha agenda diária levando-as em conta. O mundo não gira em torno do meu umbigo, eu sei. Chego a me perguntar: será que eu li errado no e-flyer? Júlio WCM confirma que não: realmente era 14:00h mesmo. São 16:30h. Alguns gatos pingados das bandas que vão tocar estão na porta do antigo CETE. Não sou crooner, então desencanei do relógio nesse momento, em que notei que nem ao menos o som estava montado às 17:00h. Bom, o público do evento podia reclamar. Eu te pergunto: Que público? Numa olhada rápida, havia no máximo dez almas infernais esperando o levanta-poeira. Os outros dez eram integrantes das bandas, que no fuso-horário Goiânia Rock City, deveriam estar tocando pelo menos a partir das 16h. Te lembro, caro leitor, não sou fanático, jamais cobraria aqui um show de domingo se iniciar às 14h.
Matei a tarde do domingo toda ali. Desempolguei. Cansei. Estressei. Seria esse o momento de eu levantar o meu dedo indicador e arremessar a culpa nos ombros do mundo todo, ou no mínimo de quem eu tinha no meu campo visual naquele grotesco domingo na Casa das Artes? Não. Esse é o momento que me faz pensar: que porra é essa de cena? Por que, apesar de haver gente que trabalha e tenta, as coisas não fluem? Por que não havia, às 18:30h (olha o relógio, he he he...) literalmente NENHUM novato assistindo ao início dos shows? Sou capaz de citar, nome a nome, quem estava lá. As mesmas dezenas de sempre. É um ciclo vicioso. Os produtores já sabem que não tem público no horário, então eles atrasam a parada. Quando há vários imprevistos como ontem (por volta das 17h, não havia sequer bateria montada), mais atraso. Tinha gente nova na organização: o coletivo GirlPowerUnder. Falei com a Kemy um pouco antes dos shows, e fiquei com um misto de pena e sensação de impotência. Nada podia fazer pra ajudar. Quando o público chega, vemos os mesmos vícios de sempre. O mais foda deles é a mania de pensar que show não tem custo, ou ainda que quem faz o evento nada em dinheiro. Daí, a certeza de que “eu sou especial, posso entrar sem pagar”. Leitura errada do que pode ser a cena hardcore, moçada.
Lá dentro, escadarias, Bibi e sua maldita Nova Schin. Eu não mereço, parceiro. Banquinha montada, bem freqüentada, a parte mais legal do pré-show. Trocar idéia com nerds como o Pedrinho é sempre bom. Ele é minha atual fonte de informações sobre o que é quentura nos players da vida. Rever os velhos camaradas também é massa. Ensaiei um quibe da Tia Kemy, mas minha gastrite severa mal curada desde janeiro me disse que não era uma boa idéia. Ficou pra próxima.
Um puta som, mal regulado, o que é uma pena. Vi o show do Luta sem Descanso. A guitarrista extremamente técnica estava lá. A baixista boa de serviço também. O vocal cansativo da menina front-woman idem. A baterista que não inventa demais, e por isso é boa, lá. O que não estava era o mesmo tesão de um show que eu vi dessas meninas no Martin Cererê. Se não me falha a péssima memória que tenho, foi no mesmo dia em que o Biggs tocou. Saí do pit com o nome delas na cabeça. Assisti ao show, nesta feita, maravilhado. Disse pra um bróder, na ocasião: meu, onde essas meninas estavam? Mas ontem, não foi o dia. Show burocrático. Meninas, agora que voltaram, vou esperar outro show fodástico como aquele do Martin, viu? Como eu sei que vocês conseguem, to no aguardo.
Final de show das meninas, passagem de som do Corja. Passagem de som? Sim. Com tudo montado somente às 18:30h, nenhuma banda passou som, afinou instrumentos, enfim. Não deu pra mim. Precisava ir embora. Sacanagem maior foi a rapaziada começar “Supernaut” e não terminar, durante a passagem. É a minha predileta do Volume 4. Gostaria muito de ter visto o show do Corja, há anos que não vejo. Mas a circunstância não permitiu. Sociofobia, Warnoise, Black Skull, desculpe-me.
Por mais que você, leitor, queira que eu vá apontar o dedo para eleger culpados, eu não o farei. Eu preciso sim é me adequar. Vamos parar de falar do ideal e abraçar o real. Gigs hardcore punk ou metal se tornaram rodas de biriba. Eu que não sou tão entrosado assim, já conheço até as fofocas da galera. O que me anima é ver que tem gente ainda afim de produzir. As meninas do coletivo GirlPowerUnder estão de parabéns pela iniciativa, e eu lamento demais todos os contratempos. Eu vou estar, com absoluta certeza, no próximo evento de vocês. Seja em parceria com a calejada TBONTB ou não. No próximo, eu quero me ater ao show, ao espaço, com gosto. Ontem, meu humor foi amargamente temperado pela maior espera da minha vida por um evento cultural.
Produtores de hardcore, punk, metal e afins: perguntas novas precisam ser feitas. Neste espaço, eu pretendo contribuir, provocando, debatendo, abrindo as portas. Precisamos chegar a uma síntese rápido, para guiar a práxis. Refutamos (sim, eu me incluo) e tripudiamos do discurso de profissionalização do rock na cena goianiense. Será que ele é de todo ruim? Não há nada lá que possamos aproveitar? Na história, são muitos casos em que para haver a revolução, foi necessário um recuo estratégico. E são também muitos os casos em que, através do radicalismo sectário, projetos inteiros de transformação social se perderam.
Talvez, a entrada na terceira década de existência tenha comprometido minha paciência. Pode ser. Coisa de “velho”, querer voltar pra casa no horário programado. Minha esposa operária na pressão pra ir embora, porque hoje às 5:40h ela estava de pé. Tiro a razão dela? De repente, chegou a hora de eu baixar a coleção do Thelonious Monk, comprar uma boina e um pulôver xadrez (eu já uso óculos) e apreciar charutos. Quem sabe.
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veja poucas fotos aqui, que não ficaram legais porque minha máquina fotográfica não é nada boa para ambientes escuros:
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Ouça Thelonious Monk em ação. Eu não conhecia, virei fã. Jazz é louco. Créditos do Blog "Ai, que Jazz!":
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5 comentários:
eu sei lá o que deu nas meninas do LSD, mas o som delas é foda, eu mesmo vi o ensaio delas lá no Atitude Musical para tocar nessa parada aí e tava massa. Deve ser a falta de público que as desmotivou.
Como o assunto do momento é "o que deu nas meninas do LSD", venho oficialmente pedir desculpas pela decepção geral...
Vocês sabem, todos temos momentos difíceis às vezes, e nem sempre é tão animador aquilo que deveria ser...
Problemas de saúde, mal-estar, dor de garganta, tosse e ausência de voz, associados à falta de organização e um atraso não premeditado, não costuma dar muito ânimo mesmo qndo se trata de rock...
Em outras circunstâncias eu estaria bem mais animada...
Mas, fica aqui a dívida de um show a nível de Martim Cererê.
Abraços.
Alemão,
teu texto tá cada vez mais foda. Parabéns! Uma das coisas que eu sempre reclamo a falta nessa terra é gente que escreve, e você vem segurando a caneta com galhardia e competência. Se conseguir escrever também com regularidade, ninguém aguenta! hahahahahahah
Agora falando sobre o último parágrafo do seu texto. Eu despertei muita antipatia e desafetos por defender a profissionalização que você refuta, e sempre fiz isso justamente por ver que atrasos, cervejas ruins e quentes e bandas porcas e mal ensaiadas(não foi o caso das citadas no seu texto) matam qualquer interesse de gente nova ou velha. Mas eu esfriei o meu ânimo e não tenho tempo pra briga, ou talvez a idade tenha me amaciado. O fato é que não sou ferrenho defensor do que defendia três anos atrás (talvez não defenda o que defendia hoje de manhã, quem dirá...), e acho também que um meio termo deve ser encontrado. Não será profissionalizando? Não queremos - me incluo nessa - rock burocrático batendo cartão, mas queremos curtir o rock com algumas condições mínimas, caramba! Não credito nunca a culpa ao público, porque público vai onde quer e a hora que quiser, então a culpa está nas pessoas que produzem, tocam, escrevem, enfim trabalham e - no meu caso - pseudo-trabalham a cena. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, mas algo precisa ser feito. Espíritos desarmados, acho que o Rango é um local para bons debates. O fórum está aberto?
Cara, fórum abertíssimo. Como eu disse no último parágrafo, temos que equacionar estes problemas o mais rápido possível. Se eu puder ajudar, será uma honra.
Valeu, Eduardo!
Sem contar que: não havia retorno para os bateristas, não havia espaço para a cadeira que estavam sentados (a qual toda hora caia num pequeno buraco atrás do palco) e nem mesmo um mini microfonezinho no bumbo...
... além do tempo extra de atraso,
acho que ngm dá "show" né !
uma pena =/
fica para o próximo
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